quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ratinho abriu um palanque para Feliciano em seu programa

Ratinho entrevista o deputado e pastor Marco Feliciano no seu programa

Pensei que ia ser um carnaval. Ratinho não é exatamente conhecido por seu comedimento. Também é um homem de posições extremamente conservadoras, apesar da entrevista para lá de simpatizante que fez com o ex-presidente Lula.
Além do mais, seu filho Ratinho Jr. concorreu à prefeitura de Curitiba pelo PSC --o mesmo partido do pastor e deputado federal Marco Feliciano, seu entrevistado desta segunda-feira (15), no SBT.

Mas Ratinho estava controlado, discreto até. Ele não é jornalista e não tem a menor pretensão de ser perspicaz como uma Marília Gabriela, mas, à primeira vista, até que fez perguntas razoavelmente espinhosas ao atual presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Sua produção fez um considerável dever de casa e colheu questões de populares na rua. Também mostrou cenas dos inúmeros protestos em Brasília.
Verdade que não exibiu o famoso beijo entre Fernanda Montenegro e Camila Amado. O que acabou soando não como uma maneira de não chocar o espectador com um beijo entre duas senhoras, mas para caracterizar os manifestantes anti-Feliciano como jovens arruaceiros.
O próprio pastor não se fez de rogado: disse que entre as "menos de 5 mil" pessoas que foram a passeatas Brasil afora (foram muito mais, mas o número não foi contestado) "não há um único pai de família". Claro que há, mas Ratinho também deixou passar batido.
Marco Feliciano estava desenvolto, com jeito de quem passou por sessões de "media training". Respostas bem decoradinhas, como a em que citou o filósofo que dizia "não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-las".
Se bem que não citou o nome do filósofo. Então vamos lá, deputado: foi o francês Voltaire. Pronuncia-se "voltér".
Outras barbaridades foram ditas, como o fato de "só cinco artistas" terem se manifestado contra sua permanência na CDH (foram muito, muito mais). E, segundo Feliciano, artistas não contam, pois levam vidas desregradas e estão sempre "mudando de família".
Ratinho não rebateu nada, absolutamente nada do que disse seu convidado. O apresentador não parecia despreparado: parecia era mancomunado.
No final, percebi que seu comportamento aparentemente sensato foi extremamente benéfico para o deputado. Passou isenção onde não havia.
A entrevista parecia toda combinada, como essas que assessores de imprensa armam para seus clientes corporativos.
Não foi o circo dos horrores que fez a fama do "Programa do Ratinho". Mas já está entre os piores momentos da TV brasileira em 2013.


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