sábado, 11 de maio de 2013

Para especialistas, sete acidentes em 40 dias mostram que Rio não pensa bicicleta como transporte

Ilustrativa

O grande número de acidentes envolvendo ciclistas e ônibus no Rio no último mês, além de gerar apreensão entre os moradores da cidade que se deslocam em duas rodas, mostra uma falta de visão da bicicleta como meio de transporte.
Para os especialistas ouvidos pelo UOL, falta uma cultura de respeito e inclusão das bicicletas no planejamento urbano da cidade.

Classificado como o 25º destino mais procurado no mundo por empresas e organismos internacionais para sediar feiras e congressos, de acordo com um ranking realizado pela International Congress and Convention Association (ICCA), o Rio tem, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 150 km de ciclovias, malha considerada insuficiente pelo professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e especialista em transporte, Alexandre Rojas.
"As ciclovias do Rio foram feitas para 'inglês ver'. Não funcionam como elementos de trânsito nem são pensadas para isso", diz Rojas ao explicar que grande parte das ciclovias tem como principal função o lazer, e não o deslocamento.
"Em muitos pontos a pista é interrompida por árvores, postes, isso quando não é usada como estacionamento", diz o professor da Uerj ao lembrar o trecho que liga o bairro de Botafogo a Lagoa Rodrigo de Freitas, onde a ciclovia ocupa quase todo o espaço da calçada destina a pedestres.
Segundo o arquiteto e professor de urbanismo da Universidade Federal Fluminense Gerônimo Leitão, os bairros da cidade em que o uso de bicicleta como deslocamento é mais intenso, como Santa Cruz e Bangu, na zona oeste, são os mais desfavorecidos em termos de ciclovias e políticas para ciclistas.
"Infelizmente, a bicicleta ainda não é vista como um meio de transporte na cidade. Esse comportamento está mudando, principalmente em relação aos trajetos curtos, mas há muito o quê fazer", explica.
Para Leitão, o poder público precisa investir na integração entre os modais de transporte. "Usar a bicicleta é um desafio para quem pega o metrô ou a barca, por exemplo. Não há onde deixá-la, a passagem para esses pontos é perigosa para o ciclista."
Leitão lembra ainda a questão cultural. "O motorista tem que ver o ciclista como parte do trânsito e respeitá-lo e o ciclista também precisa seguir as regras", diz. "A ideia da bicicleta como meio de transporte envolve a qualificação da ciclovia e dos equipamentos e, principalmente, a articulação com o transporte de massa."
Nesta quinta-feira (9) mais um ciclista morreu atropelado por um ônibus enquanto pedala pela Avenida Dom Helder Câmera, em Pilares, zona norte da cidade.
Na quarta-feira um adolescente de 13 anos morreu ao ser atropelado por um ônibus na pista lateral da Avenida das Américas, altura da Avenida Salvador Allende, sentido Barra da Tijuca.
No dia 30 o dentista e triatleta Pedro Nikolay, de 31 anos, morreu após ser atingido por um ônibus da linha 433 (Vila Isabel – Leblon) enquanto andava de bicicleta com outros 20 ciclistas na orla de Ipanema.
No dia 1º de abril, a diretora de televisão Gisela Matta, de 36 anos, também morreu no hospital após ser atropelada por um ônibus no Rio. Ela passeava de bicicleta na noite anterior, quando foi atingida por um coletivo da Transportes Futuro, na esquina das avenidas General San Martin e Bartolomeu Mitre, no Leblon, zona sul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.