segunda-feira, 13 de maio de 2013

Saiba o que deu errado em "Salve Jorge", que chega ao fim nesta semana



"Salve Jorge" termina nesta semana com boa audiência e grande repercussão nas redes sociais. É um final feliz para uma novela que teve uma trajetória bastante tumultuada.
Mesmo assim, muitos desses acidentes de percurso poderiam ter sido evitados. Sem eles, a trama de Glória Perez talvez tivesse se tornado um marco no gênero, como o foi sua antecessora "Avenida Brasil".
Aliás, este foi o primeiro dos problemas de "Salve Jorge", e um baita de um azar: ter vindo logo após a novela de João Emanuel Carneiro, a mais bem-sucedida dos últimos anos. Depois do roteiro enxuto de "Avenida", muitos espectadores se ressentiram de estar de volta ao novelão tradicional, inchado de histórias paralelas. O que nos leva ao primeiro defeito inerente de "Salve Jorge".

Excesso de personagens: o site da Globo lista mais de 80 personagens fixos. Contando as participações especiais, foram mais de uma centena. Não admira que muitos deles desaparecessem do vídeo por meses --e quando voltavam, ninguém lembrava mais quem eles eram. Atores do calibre de Stênio Garcia, Cristiana Oliveira e Eva Todor simplesmente evaporaram.
Mocinho fraco: No começo parecia que Théo, o capitão da cavalaria interpretado por Rodrigo Lombardi, encarnaria o São Jorge do título --o guerreiro destemido que derrota o dragão da maldade. Até a música-tema do personagem, "Esse Cara Sou Eu", pintava-o como um herói idealizado. Mas o que se viu na tela foi um banana dominado pela mãe e indeciso entre as várias mulheres que se atiravam a seus pés. Fez por merecer o apelido de "Pastheo" que ganhou na internet.
Capadócia folclórica: Dos muitos núcleos da novela, este foi o mais caricato e desinteressante. Vestindo trajes exóticos e falando com entonações exageradas, figuras como Sarila, Tamar, Esma, Demir e vovó Farid provocaram um bocejo coletivo na audiência. Tanto que tiveram suas presenças diminuídas. Podiam sumir de vez: não fariam muita falta.
Buracos e absurdos na trama: Glória Perez foi assistente de Janete Clair, a maior autora brasileira de telenovelas de todos os tempos. E segue de perto os preceitos de sua mentora, que sempre sacrificou a lógica em prol da emoção. Só que os tempos são outros. O público de hoje, muito mais informado que o dos anos 70, não engole qualquer coisa com a mesma facilidade de outrora.
A autora foi criticadíssima pelas verdadeiras crateras que abriu em seu texto, tanto pelos comentaristas de TV quanto pelos internautas. Sua resposta-padrão: esses críticos não saberiam "voar".
É verdade que pouquíssimos roteiros de cinema e TV são absolutamente verossímeis. Licenças poéticas são cometidas o tempo todo, muitas vezes de forma imperceptível. O problema de "Salve Jorge" é que elas foram tantas, e tão evidentes, que chegaram a prejudicar o envolvimento do espectador com a novela.
Morena volta ao Brasil e não conta à família nem ao namorado que foi traficada. Lívia Marini mata suas vítimas com seringadas em locais públicos e ninguém desconfia de nada. A distante Capadócia se torna um bairro de Istambul, a alguns minutos do centro da cidade, e assim por diante. A lista de despautérios é imensa.
Mesmo com tantos problemas, "Salve Jorge" teve bons momentos e seu saldo final é positivo. Na minha próxima coluna, vou apontar o que deu certo na novela. Fique ligado.

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