Em meio a uma onda de protestos no país, a presidente Dilma Rousseff fez um pronunciamento em cadeia nacional para "esclarecer" a aplicação de recursos federais em estádios da Copa do Mundo de 2014. Apesar de a União já ter comprometido cerca de R$ 1,1 bilhão com as arenas do Mundial, a presidente disse que esses recursos não saíram do orçamento federal e, portanto, não haveria prejuízo em investimentos na saúde e educação.
Acontece que, se a maior parte dos recursos usados nas obras dos estádios não saiu dos cofres federais, isso não quer dizer que não saiu dos cofres públicos. Isso porque mais de 82% dos gastos com os estádios da Copa de 2014 serão pagos com verbas ou incentivos fiscais vindos de Estados ou cidades-sede do torneio da Fifa, ou seja, com dinheiro público.
Atualmente, a construção ou reforma das arenas para o Mundial já custam R$ 8,3 bilhões (confira os valores abaixo). Desse total, cerca de R$ 6,3 bilhões (76%) sairão dos cofres dos 12 Estados da Copa, e R$ 543 milhões (6%) vêm dos municípios. Outros R$ 841 milhões (10%) serão pagos por empresas ou clubes, usando dinheiro emprestado com subsídios pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Já os cerca de R$ 600 milhões restantes (9%) virão da venda de terrenos da União no Distrito Federal para o pagamento da reconstrução do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília.
A participação do governo federal em estádios da Copa do Mundo ainda inclui R$ 329 milhões em isenção de impostos federais às construtoras que trabalham nos estádios e parte dos R$ 189 milhões que o BNDES abriu mão para oferecer financiamentos a juros abaixo do mercado para quem tocava obras para o Mundial. Os valores foram apurados por uma auditoria do TCU. Não entram no custo total dos estádios da Copa porque, na verdade, são descontos no orçamento arcados com recursos federais.
Ainda assim, o que o governo federal colocou nas arenas é menos que Estados ou municípios comprometeram.
CONFIRA QUANTO ESTADOS E MUNICÍPIOS INVESTIRAM NOS ESTÁDIOS
Estádio/Cidade-sede | Orçamento | Investimento estadual | Investimento municipal | Investimento privado |
Mineirão (Belo Horizonte) | R$ 695 mi | R$ 695 mi | - | Parceira Público-Privada |
Mané Garrincha (Brasília) | R$ 1,7 bi* | R$ 1,1 bi** | - | - |
Arena Pantanal (Cuiabá) | R$ 525 mi | R$ 525 mi | - | - |
Arena da Baixada (Curitiba) | R$ 234 mi | - | R$ 123 mi | R$ 111 mi |
Castelão (Fortaleza) | R$ 519 mi | R$ 519 mi | - | Parceira Público-Privada |
Arena Amazônia (Manaus) | R$ 583 mi | R$ 583 mi | - | - |
Arena das Dunas (Natal) | R$ 417 mi | R$ 417 mi | - | Parceira Público-Privada |
Beira Rio (Porto Alegre) | R$ 330 mi | - | - | R$ 330 mi |
Arena Pernambuco (Recife) | R$ 532 mi | R$ 532 mi | - | Parceira Público-Privada |
Maracanã (Rio de Janeiro) | R$ 1,2 bi | R$ 1,2 bi | - | - |
Fonte Nova (Salvador) | R$ 689 mi | R$ 689 mi | - | Parceira Público-Privada |
Itaquerão (São Paulo) | R$ 820 mi | Arquibancas móveis | R$ 420 mi | R$ 400 mi |
Total | R$ 8,3 bi | R$ 6,3 bi | R$ 543 mi | R$ 841 mi |
- *Custo de acordo com o Tribunal de Contas do DF // **Valor sem a participação federal
O Maracanã, por exemplo, é o segundo estádio mais caro da Copa do Mundo, atrás do Mané Garrincha. Juntando todos os contratos da reforma, o contrato para gerenciamento da obra e as correções monetárias pagas, a adequação da arena para o Mundial da Fifa já custa cerca de R$ 1,2 bilhão. Todo esse dinheiro será pago pelo governo do Rio de Janeiro.
Governos estaduais também vão bancar 100% da obra da Arena Pantanal, em Cuiabá, e da Arena Amazônia, em Manaus.
Os cofres estaduais também são a grande fonte de recursos do Mineirão, em Belo Horizonte; Castelão, em Fortaleza; Arena das Dunas, em Natal; Arena Pernambuco, em Recife; e Fonte Nova, em Salvador. Neste caso, o governo do Estado fez parcerias público-privadas para que empresas construíssem as arenas e as administrassem após a obra.
Municípios aplicou recursos com dois estádios do Mundial: Arena da Baixada, em Curitiba, e Itaquerão, em São Paulo. Em ambos os casos, a prefeitura se comprometeu a emitir títulos que serão repassados às construtoras das arenas. Esses títulos valem milhões e, portanto, são valores que a cidade gerou para incentivar as obras para a Copa.
Só o Beira-Rio não têm recursos do Estado ou município. A reforma do estádio de Porto Alegre será custeada pelo Inter e a construtora Andrade Gutierrez. A empreiteira conseguiu um empréstimo do BNDES e não pagará impostos federais referentes à obra porque foi incluída no programa de incentivos fiscais a obras de estádios criado pelo governo federal, o Recopa.
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