sábado, 15 de junho de 2013

Pão e Circo para o Povo

A expressão, que teve origem na Roma Antiga, continua tão atual e cruel como nos áureos tempos do Coliseu. É impressionante como essa “receita” é capaz de acalmar os ânimos e confundir a mente humana. Na verdade, é incompreensível. E absolutamente perturbador.

Dia desses, nesta mesma coluna, discorri sobre as péssimas condições do aeroporto de Brasília, logo após a divulgação de uma pesquisa realizada pelo próprio Governo Federal, que o lançou ao vergonhoso patamar de quarto pior do país.
Pois bem. Por causa da Copa das Confederações, uma grande e meticulosa maquiagem foi realizada na capital federal do Brasil, inclusive no dito aeroporto. As filas, mesmo com o intenso movimento, diminuíram; as bagagens apontaram logo nas esteiras; os banheiros passaram a funcionar razoavelmente bem, com sistema de revezamento permanente de limpeza; os ônibus que fazem o transporte da aeronave para o aeroporto e vice-versa circularam limpos e com número limitado de passageiros.
A cidade, então, nem se fala. Uma profusão de garis e funcionários lavando e luzindo os revestimentos dos túneis e da rodoviária, varrendo as ruas e renovando as pinturas, regando e podando as plantas, enfeitando os postes e as ruas. E o estádio novo, com nome de craque e que comporta, com folga, o Maracanã? Pomposo, com barraquinhas brancas e padronizadas o circundando. Tudo lindo e assimétrico!
Até aí, maravilha, se não fosse por um mero detalhe: o fato de ser uma maquiagem. E, claro, de que as pessoas se embeveçam com esse movimento e continuem acreditando que fazem parte desse show. Ouvi, bem e claramente, do Bom Dia DF: “Brasília capricha para receber os japoneses, extremamente exigentes com os quesitos limpeza e urbanismo. Tudo está sendo pensado e operacionalizado para que os irmãos orientais se sintam em casa.”
O povo, independentemente de classe social, profissão, credo, cor ou religião, feliz da vida, exalando ufanismo por todos os poros. Os protestos pararam e a cidade se quedou, enfeitiçada. O feriado já foi decretado. Vamos celebrar o Brasil e a sua arte de encantar!
Gente, como assim? E nós, que bancamos a conta, não merecemos esse tratamento? É ou não é uma grande atração circense? Isso, por si só, já diz tudo. Estamos onde estamos por causa da nossa leniência e acomodação. E também porque fomos e continuamos alienados. A constatação, além de verdadeira, é triste e deprimente.
Precisamos limpar, podar, polir e renovar o nosso pensamento coletivo. Essa medida é para já e não deve depender de nenhuma visita. O país precisa servir aos nossos propósitos e às nossas necessidades enquanto cidadãos. Caso contrário, continuaremos a nos alimentar de pão dormido e a assistir a um espetáculo onde, inevitavelmente, seremos nós os atrativos. Ainda que não tenhamos a capacidade de perceber...
* Márcio Melo via Portal No Minuto

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