sexta-feira, 14 de junho de 2013

PM de SP usa bombas com validade vencida para reprimir protesto

Na bomba de gás lê-se a mensagem: "Atenção, oferece perigo se utilizado após o prazo de validade"

As bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar de São Paulo em repressão ao protesto contra o aumento do preço das passagens de ônibus, metrô e trem, na noite desta quinta-feira (13), estavam com a validade vencida. A denúncia foi feita por manifestantes e moradores da área central da capital, onde ocorreu o ato.

A fotografia de um dos artefatos divulgada nas redes sociais mostra que o prazo de validade para uso do material terminou em dezembro de 2010. Na embalagem do produto, uma mensagem alerta: "Atenção: oferece perigo se utilizado após o prazo de validade".
O ator Rafael Queiroga, 30, foi um dos que encontrou um desses artefatos na rua onde mora, no bairro dos Jardins, depois que policiais militares dispararam bombas contra os manifestantes.
Ele conta que não estava participando do protesto, mas desceu para ver o que estava acontecendo. "Havia várias dessas na rua. Peguei uma. Quando cheguei em casa, fui alertado por uma pessoa sobre a validade da bomba", lembra.
A constatação causou revolta no ator. "Isso é negligência. Estão colocando em risco a vida das pessoas", desabafa.

O quarto protesto

Com o endurecimento da repressão por parte da Polícia Militar, o quarto ato contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, realizado na noite desta quinta-feira (13), terminou sendo o mais violento da série de manifestações ocorridas na cidade nos últimos dias.
Segundo a delegada Victória Lobo, titular da 78º DP (Jardins), 241 pessoas foram detidas no protesto e encaminhadas para essa delegacia,  para o 1º DP (Liberdade) e para o 4º DP (Consolação).
Ao menos quatro foram autuadas (três por porte de entorpecentes e um por resistir à prisão), assinaram um termo circunstanciado e vão responder a processos em liberdade. Outras cinco foram indiciadas por formação de quadrilha e danos ao patrimônio --crimes inafiançáveis-- e vão continuar presas.
Com os manifestantes, a polícia diz que apreendeu facas, estiletes, tesouras, martelos, coquetéis-molotóvs, machadinha, aerosol, garrafas de álcool, tinta e sprays e uma pequena quantidade de maconha. Celulares, câmeras fotográficas e uma garrafa de vinagre também foram apreendidos.
Cerca de 40 pessoas foram detidas antes mesmo de o protesto começar. Antes do início do ato, manifestantes e jornalistas que carregavam vinagre --como o repórter Piero Locatelli, da 'Carta Capital' para reduzir os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo foram detidos, sob a alegação da PM de que o produto pode ser usado para fabricar bombas caseiras.
Segundo o Movimento Passe Livre, que organizou a manifestação, pelo menos cem ficaram feridos. Entre os feridos, sete são jornalistas da Folha de S.Paulo. A repórter Giuliana Vallone, da TV Folha, foi atingida no olho por uma bala de borracha disparada por policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Outro repórter da Folha, Fábio Braga, também foi atingido no rosto por disparos de bala de borracha no centro da cidade. Giuliana subia a rua Augusta registrando o protesto quando foi atingida. 
Repórteres do Terra e da Rede Brasil Atual foram agredidos com cassetetes durante a cobertura.
Antes do protesto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarou que não iria tolerar atos de vandalismo. Na manifestação de hoje, a PM mobilizou grande aparato, com tanques blindados, helicópteros e até a cavalaria. Além da Tropa de Choque, policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e da Força Tática atuaram na repressão, totalizando efetivo de 900 homens.

ANÁLISES

"Por mais justo que seja baratear a tarifa, suas vantagens são questionáveis se for para ter menos, mais lentos, precários e superlotados serviços de transporte coletivo" Leia mais
"Tudo se resume em utilizar táticas e arsenal"não letal"para controlar de modo pacífico um distúrbio. O policial tem que ter antes de tudo disciplina, e o policial que quase foi linchado é um perfeito modelo disso" Leia mais
"Alguém acha que a realidade vai mudar apenas com protestos online ou cartas enviadas ao administrador público de plantão? Desculpe quem tem nojo de gente, mas protesto tem que mexer mesmo com a sociedade, senão não é protesto" Leia mais
Segundo relato da repórter do UOL, Janaina Garcia, a Polícia atirou indiscriminadamente, contra manifestantes, transeuntes e jornalista a trabalho. "Não havia saída pela via nem pelas transversais, todas cercadas pelo Choque". Veja o relato.

Começo pacífico, final violento

O protesto começou por volta de 18h na praça Ramos de Azevedo, no centro, onde os manifestantes se concentravam desde 17h. De lá, o grupo, de aproximadamente 5.000 pessoas, segundo a PM, seguiu até a praça da República. Depois, caminharam pela avenida Ipiranga e chegaram à rua da Consolação, na altura da praça Roosevelt. Até então, não havia registro de ocorrências graves.
Na altura da Roosevelt, os manifestantes foram impedidos pela polícia de seguir na Consolação até a avenida Paulista. Iniciou-se uma negociação entre o comando da PM e lideranças do movimento. Em um dado momento, por volta de 19h10, começou o confronto. Segundo o jornalista Elio Gaspari, da Folha de S.Paulo, os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que chegaram com esse propósito.

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