segunda-feira, 8 de julho de 2013

Acusado de matar adolescente acampa em delegacia com medo de morrer


Acusado de ter matado adolescente, homem acampa em delegacia (Foto: Wellington Rocha)

Até que ponto a desconfiança e a suspeita podem destruir a vida de uma pessoa? Acusado de ter estuprado e matado uma adolescente de 14 anos, o técnico em eletrônica Reginaldo Soares da Silva, de 45 anos, sabe bem o que isso significa. Acampados há 17 dias na frente da Delegacia de Plantão da Zona Sul, no bairro de Candelária, Reginaldo e o seu filho Francinaldo Bezerra do Nascimento, de 23 anos, dizem se sentir reféns da própria sorte e aprisionados pela desconfiança social. 

O crime foi registrado no dia de 24 de junho deste ano, quando o corpo da adolescente Jane Kelly Oliveira da Silva, de 14 anos foi encontrado, por populares na praia de Areia Preta, Zona Leste de Natal, com pés e mãos amarradas às suas próprias roupas íntimas, nua e amordaçada. Desde então, teve início o pesadelo de seu Reginaldo e do filho dele, que se viram obrigados a se refugiar do crime pelo qual são acusados em um canto de calçada de uma delegacia em Natal para não serem linchados por populares e familiares da vítima que a partir de então passaram a ameaçar de morte o homem e o filho. 

Parece contraditório, e de fato é, tanto que o próprio Reginaldo Questiona: “Se eu fosse assassino, você acha que eu ia procurar justo a polícia?”, pergunta ele com um certo ar de revolta e indignação. Visivelmente emocionado, seu Reginaldo pede justiça. 

Seu Reginaldo conta que tudo começou quando um policial da 4ª Delegacia de Polícia chegou em sua casa, localizada no bairro de Mãe Luiza fazendo perguntas sobre a jovem que havia sido encontrada morta. Ele diz que o policial pediu que o acompanhasse, pois pessoa teria dito que a jovem tinha sido vista horas antes de morrer passando com seu Reginaldo pela praia. O técnico em eletrônica diz que nem sabia quem era a adolescente e que conhecia a mãe dela apenas de vista, pois a mesma tinha uma barraca na praia. Seu Reginaldo conta ainda que na delegacia, tiraram sua foto e mostraram aos familiares da vítima que o reconheceram como autor do crime, dando início ao seu martírio, segundo ele. 

Natural de São Paulo do Potengi, Reginaldo Soares é pai de quatro filhos. Viúvo, casou-se novamente e há cerca de três anos foi deixado pela mulher, que após ganhar uma indenização na justiça por causa de um erro médico o abandonou para viver com outro no Rio de Janeiro. Ao abandoná-lo, mulher carregou com ela os outros três filhos, os quais seu Reginaldo diz nunca mais ter tido notícias. 

Humilhação é a palavra que melhor define a situação vivida pelos dois, diz seu Reginaldo. Dormindo na calçada da delegacia de plantão, seu Reginaldo e o filho recebem ajuda de pessoas que doam roupas e agasalhos. A alimentação, feita apenas uma vez por dia, só é possível porque policiais da DP de plantão doam “quentinhas”, que mal dão para matar a fome. Banho tem virado coisa rara, necessidades fisiológicas em condições precárias e improvisadas, assim tem sido o dia-a-dia dos dois homens. “Só queria que alguém visse a nossa situação e nos ajudasse. Não matei ninguém e nem conhecia aquela menina”, alega. 

Seu Reginaldo diz ainda que um policial se ofereceu para leva-lo para o interior e assim se refugiar enquanto as coisas esfriam, no entanto, ele continua relutante e pede justiça. “Não sou criminoso e por isso não preciso me esconder. Quero justiça e só saio daqui quando conseguirem provar que eu não tenho nada a ver com esse crime”, disse.
 
* Márcio Melo via Eduardo Dantas/Portal no Ar

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