terça-feira, 17 de setembro de 2013

Papa Francisco liga para fiéis e ganha apelido de 'telefônico'

Luca Zennaro/AFP

Na última sexta-feira (13), o papa Francisco pediu para o diretor do Centro Televisivo do Vaticano (CTV), monsenhor Dario Edoardo Viganò, dizer aos jornalistas do mundo todo que seus "telefonemas não são notícia".

Essa foi a forma de Francisco minimizar as ligações que o fizeram ganhar o apelido de "papa telefônico". Ao contrário de seu antecessor, Bento XVI, Francisco, conhecido por sua simpatia, tem o hábito de responder mensagens enviadas pelos devotos via telefone, o que vem dando alegrias inesperadas a muitos fiéis e preocupando o Vaticano.
"Eu sou assim, sempre fiz isso, inclusive quando vivia em Buenos Aires. Recebia um bilhete, uma carta de um padre em dificuldades, de uma família ou de um presidiário, e eu respondia. Para mim, é muito mais simples telefonar, informar-me do problema e sugerir uma solução, se houver. Telefono para alguns e, para outros, escrevo", afirmou Francisco, em um encontro com Viganò.
A razão da preocupação por parte do Vaticano é a possibilidade de pessoas se passarem pelo pontífice em defesa de causas políticas ou ideológicas. Em tom de brincadeira, o papa ainda chegou a dizer "menos mau que eles [jornalistas] não sabem de todos aqueles telefonemas que faço", dando a entender que suas ligações são mais frequentes que as noticiadas pela mídia. Duas supostas ligações, uma ao presidente sírio Bashar Assad e outra a um jovem gay francês em crise, foram negadas pelo Vaticano, que afirmou que é prerrogativa do papa telefonar a quem quiser, mas que interviria quando os rumores ou trotes envolvessem questões internacionalmente relevantes, como a Síria, ou tivessem implicações doutrinárias sérias.
Outros analistas do Vaticano temem que o advento dos telefonemas papais cause desilusão às pessoas que não receberam uma chamada.
"Alô, aqui é o papa"
Francisco fez uma série de telefonemas nos últimos meses a fiéis que lhe enviaram correspondências ou que estão passando por situações difíceis na vida. Entre elas estão alguns casos que vieram a público:
Grávida e desamparada
Anna Romano, italiana divorciada de 35 anos, engravidou e foi pressionada por seu amante, um homem casado, a abortar. Desesperada, ela decidiu escrever uma carta, em julho, para desabafar com o papa Francisco. Pouco depois, ao atender uma ligação, ouviu uma voz do outro lado da linha: "Olá Anna, sou eu, o Papa Francisco".
"Ele tinha lido a minha carta e me assegurou que o bebê é um dom de Deus, um sinal da providência", acrescentou. "Ele encheu meu o coração de alegria quando me disse que eu era corajosa e forte pelo meu filho", revelou Anna, que expressou ao pontífice seu receio de que a criança não pudesse ser batizada. Em resposta, Francisco afirmou que seria possível batizar a criança e fez uma oferta inusitada. "Estou convencido que não terá dificuldade em encontrar um pai espiritual [padrinho], mas, caso não consiga, estou sempre disponível", disse o Papa.

Garoto com distrofia

O menino Michel, que mora em Pinerolo (Turim), de 15 anos e sofre de distrofia muscular, recebeu em 14 de setembro um telefonema do papa Francisco, dois dias depois de ter enviado uma carta ao pontífice: "Fiquei tão emocionado com a ligação do papa que mal posso esperar para contar a história no meu facebook", contou o rapaz à imprensa.
Argentina vítima de estupro
No final de agosto, Francisco telefonou para uma mulher argentina que foi vítima de estupro. Durante 30 minutos, ele aconselhou-a: "Quando ouvi a voz do Papa no telefone, pareceu que eu tinha sido tocada pela mão de Deus", contou Alejandra Pereyra, 41, que foi abusada sexualmente por um policial.
Pereyra relatou à imprensa argentina e à italiana sua conversa com o Papa, e contou que enviara, há 10 dias, um e-mail a Francisco pedindo ajuda. Segundo ela, desde que denunciou o crime, tem sido vítima de ameaças e perseguições. Além de nunca ter sido chamada par depor, o criminoso acabou livre e ainda recebeu uma promoção no trabalho.
Sem esperanças, Pereyra viu uma luz diante de seus problemas ao receber a mão amiga de Francisco: "Às 15h50 de domingo, meu telefone tocou. Quando perguntei quem era, ouvi a resposta: 'O Papa'. Fiquei petrificada", revelou.
Família de empresário assassinado
O papa Francisco telefonou algumas vezes para a família do empresário italiano Andrea Ferri, que foi assassinado a tiros no dia 4 de junho durante um assalto na cidade de Pesaro.
Primeiro, o papa falou com o irmão de Andrea e depois ligou para consolar a mãe do empresário. "Senhora Rosalba, aqui é o papa Francisco", disse o pontífice, segundo a imprensa italiana. A conversa durou cerca de 10 minutos e o conteúdo foi mantido em sigilo.
A família tinha escrito uma carta logo após a morte de Andrea Ferri. Os outros dois irmãos do empresário, Michele e Paolo, haviam lamentado ao papa as desgraças da família na mensagem enviada.
Torcedor do San Lorenzo
No fim de agosto, o papa Francisco telefonou a um torcedor do San Lorenzo, assim como ele, Juan José, velho conhecido, que morava em um bairro humilde de Buenos Aires.   


"Queridos amigos, quero contar-lhes que esta manhã me surpreendeu uma ligação no meu celular. Estava no meu trabalho com minha sobrinha e uma vizinha, e a voz do outro lado me disse: 'Oi Corvo [como são conhecidos os torcedores do time], como está?'. Era o papa Francisco, um pai para mim e um amigo", explicou José, em sua conta no Facebook.   

O jovem, teve seus pés lavados por Jorge Mario Bergoglio na cerimônia de lava-pés em 2008, recebeu a ligação depois de o sacerdote José María Di Paola, conhecido como "padre Pepe", ter visitado o Papa. Pepe, que faz trabalhos sociais nos bairros mais pobres da capital Argentina, havia recebido cartas de dois jovens para entregar ao papa, uma de Juan José e outra de uma jovem chamada Milagros, que vivia em um contêiner de lixo. Os dois recuperaram suas vidas com a ajuda da igreja católica e agora têm casa, trabalho e formaram família.

* Reprodução Márcio Melo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.