Assunção, 1 set (EFE).- Vários motoristas de ônibus de uma linha de transporte público do Paraguai permanecem crucificados e em greve de fome há quase um mês em protesto por terem sido despedidos em represália por criarem um sindicato.
Nas barracas de lona preta em frente à parada do ônibus da linha 30, que liga a capital Assunção a Luque, oito homens e uma mulher estão com as mãos pregadas em cruzes de madeira apoiadas no chão e outros quatro fazem greve de fome.Os crucificados decidiram tomar esta medida há pelo menos 23 dias, depois de a empresa Vanguardia SA, que administra a linha 30 do transporte da capital, despedir sem explicação oito motoristas.
"O erro destes companheiros foi se organizar e se filiar a um sindicato. Esse foi o pecado maior. Por isso foram despedidos sem justificativa. Queremos a reposição dos oito companheiros", disse o secretário-geral da Federação Paraguaia de Trabalhadores de Transporte Terrestre (Fepatrat), Juan Villalba Ovando, que está há 10 dias sem se mexer da cruz.
Villalba denunciou que os despedidos trabalharam em condições ilegais durante uma década, conduzindo 16 horas por dia e sendo pagos por viagem em vez de por mês, sem ter vínculo com a previdência social paraguaia e sem receber trabalhistas previstos na lei.
Em julho aconteceu a primeira manifestação, que reivindicava que o governo reconhecesse o Sindicato de Motoristas criado para defender os direitos dos trabalhadores.
Após as reuniões realizadas ontem entre representantes do sindicato, da empresa e do vice-ministério de Transporte, a companhia concordou em devolver o emprego a cinco dos demitidos, mas os manifestantes se negaram a encerrar o protesto até que os oito funcionários sejam readmitidos.
Os crucificados têm dificuldade para falar, são medicados para suportar a dor dos cravos e conseguir dormir algumas horas por dia. Os quatro homens em greve de fome também permanecem prostrados na cama e só ingerem água.
Apesar de o serviço ter continuado sem interrupção, cerca de 60 motoristas de ônibus apóiam a greve. "É uma causa justa, merecemos respeito depois de tantos anos de trabalho", declarou a Agência Efe Claudio Ramírez, um dos punidos com a demissão.
A diretora geral interina do vice-ministério, que não quis dar seu nome, foi até o acampamento para oferecer uma nova reunião e informou que a empresa manteve a decisão de só readmitir cinco dos demitidos.
Segundo ela "há um conflito jurídico, de ordem sindical, há despedidos, há organizações sindicais que se formaram com muitas complexidades e questionamentos da empresa".
"Estamos tentando mediar o conflito, mas isso se torna mais complicado quando uma parte toma medidas extremas assim, porque é difícil conversar com quem não pode se levantar para falar em uma mesa", acrescentou.
Os grevistas denunciam também agressões e pressões dos gerentes da empresa. O administrador geral e o chefe de pessoal foram detidos mês passado com duas armas de fogo, cravos e um taco de beisebol, com os quais, segundo a polícia, planejavam um atentado para culpar os trabalhadores.
* Reprodução Márcio Melo
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