* G1 - Após fazer uma aplicação de hidrogel no bumbum, a paciente Maria José Medrado de Souza Brandão, 39 anos, disse que estava passando mal e com medo de morrer à suposta biomédica que fez o procedimento em uma clínica estética de Goiânia. "[Estou] tremendo muito e com uma falta de ar enorme”, relatou a mulher, pelo aplicativo de celular Whatsapp, antes de falecer em um hospital, na madrugada do último sábado (25).
Maria Brandão morre após fazer aplicação de hidrogel no bumbum (Foto: Aracylleny Santos/ Arquivo Pessoal) |
Maria chegou a perguntar se o hidrogel poderia ir para a corrente sanguínea. Mas a profissional negou e disse para ela se acalmar: "Não tem perigo, pode ser pela tensão mesmo”.
O procedimento para aumentar o bumbum foi feito na sexta-feira (24). No mesmo dia, Maria foi encaminhada ao Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) do Setor Vila Nova. Em seguida, a levaram para o Hospital Jardim América, onde foi internada, na Unidade de Terapia Intensiva.
Segundo a família, Maria morreu por volta das 5h de sábado com quadro suspeito de embolia pulmonar, mas a causa da morte só será confirmada pelo laudo do IML, que deve ser concluído na próxima sexta-feira (31). A Polícia Civil investiga o caso.
Primeira sessão
Essa foi a segunda vez que Maria aplicou o hidrogel no bumbum. Ela voltou a passar pelo procedimento porque não gostou do resultado da primeira sessão, feita em 12 de outubro, em um hotel de Goiânia.
Logo após a aplicação inicial, Maria também enviou mensagens para a profissional dizendo que estava “muito assustada” com o resultado: “Só choro e choro”. Segundo a vítima, uma lateral das nádegas estava maior que a outra, diferente de como ela queria que ficasse “redondinha e empinada”.
A mulher, que se apresentava como biomédica, a tranquilizou: “Não vai ficar desse jeito, pode ficar tranquila flor, não tira porque você vai se arrepender”. Dois dias depois o primeiro procedimento, Maria disse à profissional que já estava melhor e agradeceu a disponibilidade dela, mas que queria fazer a correção.
Interdição
A segunda aplicação foi feita em uma sala alugada de uma clínica estética do Setor Parque das Laranjeiras. A Vigilância Sanitária Municipal interditou o estabelecimento na última terça-feira (28) porque o local não tinha a documentação necessária para funcionar.
A clínica pertence a uma enfermeira, que estava no local, mas não quis falar com a imprensa. Além da interdição, ela também recebeu uma multa no valor de R$ 2 mil.
Aos fiscais, a mulher afirmou que alugou uma das quatro salas da clínica para que a suposta biomédica fizesse a aplicação. Pela diária, na última sexta-feira (24), dia em que foi realizado o procedimento, ela pagou R$ 250. Segundo o chefe da Divisão de Fiscalização em Saúde da Vigilância Sanitária Dagoberto Costa, a dona da clínica disse que não sabia o que seria realizado, mas, mesmo assim, ela deve responder pela morte.
Investigação
O boletim de ocorrência foi registrado por familiares da vítima ainda no sábado, no 8º Distrito Policial de Goiânia. Na segunda-feira (27), o caso foi transferido à Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH). Porém, nesta terça-feira (28), a polícia informou que a morte será investigada pelo 17º Distrito Policial, que atua na área do Parque das Laranjeiras, onde é situada a clínica.
Os filhos e uma amiga de Maria prestaram depoimento na terça-feira. Delegada responsável pelo caso anteriormente, Tatiana Barbosa explicou que a suposta biomédica pode ser indiciada por homicídio culposo.
Ato exclusivo de médicos
Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Luiz Humberto Garcia de Souza explicou ao G1 que o procedimento invasivo no glúteo é delicado e só pode ser realizado por médicos devidamente qualificados.
De acordo com o especialista em cirurgia plástica, há uma grande possibilidade de a paciente ter tido embolia pulmonar em virtude da aplicação no glúteo. “Esse produto é um gel muito articulado, são partículas muito pequenas que têm facilidade de penetração vascular e que podem ser levadas em um volume massivo para a árvore venosa do pulmão, gerando um caso gravíssimo de embolia pulmonar”, conclui.
Diante do ocorrido, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) publicou uma resolução proibindo o trabalho médico em estabelecimentos como clínicas de estética e salões de beleza. A norma começa a vigorar na quarta-feira (29).
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