A ousadia dos criminosos ultrapassou os muros do Cemitério de Tejipió, mais conhecido como do Pacheco, na área limite entre Recife e Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Cerca de 40 pessoas participavam de um velório quando foram surpreendidas por dois homens armados. Aos gritos e com a arma em punho, os bandidos ordenaram que todos entregassem seus pertences, entre bolsas, carteiras e celulares. Era início da tarde, por volta das 14h do último dia 1º de abril, momento em que todos davam início a uma oração para o ente falecido.
“Foi desesperador. Os bandidos não respeitaram nem a dor de quem foi ali sepultar um familiar. Eles assaltaram e saíram correndo. A polícia só chegou uma hora depois e não conseguiu prender ninguém. Com medo, desisti de acompanhar o corpo do meu sogro da sala do velório até a quadra onde foi sepultado”, afirma dona de casa Ana Claudia Lima, 42 anos. Ela conta que o seu sogro morava há mais de 40 anos em Caramagibe, mas não havia vaga no cemitério público. “Tentamos enterrá-lo em outros cemitérios do Grande Recife, mas o único que tinha vaga era o do Pacheco. O local é de difícil acesso e parece abandonado. Espero nunca mais voltar lá”, disse Ana Claudia, que após sair do cemitério registrou Boletim de Ocorrência (B.O) na internet, no site da Secretaria de Defesa Social.
Localizado no Alto do Morro do Pacheco, o cemitério fica em uma rua sem saída (Rua Alto do São Pedro, s/n°), ao lado de um terreno baldio com vegetação alta, que facilita a entrada de invasores. Apesar do endereço constar como Jaboatão, a administração é de responsabilidade da Prefeitura do Recife, através da Empresa de Limpeza Manutenção Urbana do Recife (Emlurb). A reportagem visitou o local na última quinta-feira (16) e pôde constatar que apesar de estar em funcionamento, onde são realizados de quatro a seis sepultamentos ao dia, o cemitério parece esquecido pelo poder público.
Além da vegetação alta (que prejudica a visibilidade dos túmulos e facilita a ação de vândalos), o cemitério possui vários jazigos quebrados, com restos mortais à mostra, cacos de vidro e garrafas de cerveja pelo chão. “São os traficantes que sujam. Eles chegam quando escurece para consumir drogas e traficar. Ficam ‘doidos’ e quebram tudo. Não respeitam nem os mortos. Todo dia é isso”, afirma uma moradora da área há mais de 30 anos, que preferiu não se identificar com medo de represália.
Segundo a moradora, os traficantes costumam chegar ao local após as 18h e não encontram dificuldade para pular o muro. O cemitério, que possui cerca de três mil covas, é vigiado apenas por um guarda municipal durante o dia e dois à noite. “Quando os traficantes chegam, os guardas se trancam na sala da administração. Sentem medo, assim como todos nós que moramos e frequentamos o cemitério”, desabafa. Em relação aos assaltos a velórios, ela disse que são praticados por criminosos de outras comunidades. “Os traficantes são daqui do Pacheco, mas quem comete os assaltos são gangues rivais das comunidades próximas como Pantanal e Dois Carneiros”, explica. Antes do dia 1º de abril, o último assalto teria ocorrido em dezembro do ano passado.
O administrador do local, Carlos Barbosa, reconheceu que o cemitério é inseguro para funcionários e visitantes, no entanto, preferiu não comentar a ação de traficantes no local. O horário de funcionamento é das 8h às 17h, mas Carlos Barbosa só autoriza sepultamentos até as 16h para liberar os funcionários antes de escurecer. Sobre o mato alto, Carlos explicou que a capinação é realizada por uma equipe da Emlurb e que deve ser realizada nesta semana. “Choveu muito nos últimos dias, por isso o mato cresceu tanto”, justificou.
Em relação aos túmulos quebrados, o administrador explicou que compete à Emlurb a manutenção e limpeza das áreas comuns, mas os túmulos e jazigos são de responsabilidade das famílias. “Procuramos avisar para as famílias sobre a situação, mas muitos telefones de contato deixados no cadastro não funcionam”.
POLÍCIA – De acordo com a Polícia Militar, a segurança na área interna do Cemitério do Pacheco é de responsabilidade da Prefeitura do Recife e a polícia só pode inspecionar o local quando acionada ou para verificação de denúncia. Já a segurança na comunidade do Pacheco e área vizinhas é de responsabilidade do 6º Batalhão da PM.
O efetivo conta com uma viatura do Patrulha do Bairro, que segundo a PM realiza rondas durante 24h, três motos, além de uma viatura do Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI). “Estamos cientes do tráfico no local e a nossa equipe de investigação está trabalhando nesse sentido”, afirma o tenente Hugo, um dos responsáveis pela segurança na área.
Segundo o tenente, os traficantes que atuam no local contam com o apoio de “olheiros” que dificultam a ação da PM, principalmente para flagrantes. “Como o cemitério está em uma parte alta, eles (olheiros) conseguem avistar os policiais de longe. É por isso que iniciamos uma operação de investigação”, explicou. Outra dificuldade apontada pelo policial é a recusa de moradores e funcionários do cemitério em fornecer informações. “A população é intimidade pelos traficantes e prefere não falar. A polícia vem trabalhando para convencer sobre a garantia do anonimato e da importância de colaborar com a polícia, mas é difícil”, disse.
Para ajudar nos flagrantes, o 6º Batalhão da PM disponibiliza aos moradores os telefones dos policiais das viaturas que realizam ronda na área, são eles: (81) 8494.3245 / 8494. 3246 / 8494.3250 e 8494.3036. Já o telefone da sede do 6º Batalhão é (81) 3183.1650. Denúncias também podem ser feitas através do 190.
Fonte: Cidade News via Uol
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