O Fantástico mostra imagens de uma perseguição arriscada. Policiais trocam tiros com bandidos que assaltam ônibus no Centro-Oeste do país! Uma quadrilha que aterrorizava passageiros em duas das estradas mais perigosas do Brasil.
Dezembro de 2012, um carro da Polícia Rodoviária Federal segue em alta velocidade por uma estrada de terra. Os policiais procuram um ônibus de passageiros que foi desviado da rota em Goiás ! No chão, a pista: marcas de pneus no barro.
Eles pedem reforço: “Nós estamos aguardando vocês aqui para poder abordar esse veículo. Assim que vocês entrarem na estrada de chão, vocês entram em contato com a gente. Não vai dar para a gente abordar não porque a gente não sabe quantos elementos tem lá, ok?”, diz um agente.
O ônibus ia de Brasília para São Paulo. O motorista foi rendido por assaltantes e obrigado a seguir por uma estrada de terra.
Durante a ação, os policiais se aproximam. Os bandidos saem do ônibus e começa uma troca de tiros. Passageiros estão fora do ônibus e pedem socorro, alguns se jogam no chão. Outros se escondem como podem e apontam por onde os assaltantes fugiram. O motorista fica atrás da porta.
A perseguição continua com mais tiros. O vídeo foi gravado pela Polícia Rodoviária Federal.
Nos últimos seis meses, a mesma quadrilha assaltou pelo menos 20 ônibus nas duas principais estradas do Centro-Oeste.
São as BRs 040 e 050. Elas começam em Brasília. A quarenta vai até o Rio de Janeiro e a cinquenta termina em Santos, São Paulo. Segundo a ANTT, Agência nacional de Transporte Terrestres, essas estradas estão entre as três com maior número de assaltos no país
Os bandidos escolhiam trechos, como o do vídeo acima, para fazer os assaltos. São regiões desertas onde não há sinal de celular. Assim, os passageiros não tinham como se comunicar com a polícia.
O Fantástico mostra também imagens de outros assaltos da mesma quadrilha. Elas foram registradas por câmeras de segurança que ficam dentro dos ônibus. São três câmeras em cada ônibus. Uma mostra a estrada, outra o motorista e a terceira, os passageiros.
Num assalto, bandidos armados obrigam o motorista a parar e entram no ônibus. Os passageiros estão dormindo. Alguns percebem a presença dos assaltantes e colocam as mãos na cabeça. Mesmo com o ônibus lotado, os assaltantes atiram em direção à câmera de segurança. Eles não querem ser identificados. Um bandido armado fica o tempo todo ao lado do motorista e dá vários tiros em direção a outra câmera. Não consegue acertar. O motorista se assusta, mas continua dirigindo,sem perder o controle . Um outro comparsa atira e acerta a câmera . A gravação pára.
Dona Sebastiana, de 64 anos, foi uma das vítimas dessa quadrilha. Ela viajava de Brasília à Juiz de Fora, em Minas Gerais, para o casamento de um sobrinho. No meio do caminho, de madrugada, o ônibus foi atacado pelos bandidos.
“Eu fiquei o tempo todo, uns quarenta minutos com uma arma apontada para mim”, conta a dona de casa Sebastiana Sampaio.
Os ladrões levaram dinheiro, celular, documentos e algo que não tem preço.
“A minha aliança. Eram 25 anos de casada. Era uma aliança especial. Tinha um valor sentimental muito grande”, disse.
“Esses assaltos ocorrem num tempo muito curto. Eles abordam os ônibus e, imediatamente, entram em estradas rurais. A gente deixa de ter acesso à informação”, destaca o superintendente da Polícia Rodoviária Federal do Centro-Oeste, Fernando Pereira.
Foi o que aconteceu com três ônibus, assaltados ao mesmo tempo. A ação, também gravada pelas câmeras internas de um dos ônibus, quase acabou em tragédia. Por pouco, não batem de frente !
Manobram na pista e seguem em comboio para uma estrada de terra. Os passageiros ficam assustados. Durante o assalto, uma mulher se arrisca e leva uma criança para o fundo do ônibus.
Enquanto isso, os bandidos recolhem dinheiro, relógios e celulares.
Todos os dias, pelo menos um ônibus é assaltado nas estradas do país. As mais perigosas ficam nos estados de Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Bahia e Alagoas.
De janeiro a agosto desse ano, foram 211 registros. Mas para a polícia, o número de assaltos pode ser bem maior do que mostram os números oficiais.
“Muitas dessas vítimas não procuram as delegacias de polícia. O que se torna também um item que dificulta e muito a investigação desses crimes”, destaca o delegado da polícia civil de Goiás Jean Carlos Arruda.
E como terminou a perseguição que mostramos no começo da reportagem?
Na estrada de terra, os bandidos conseguiram despistar a Polícia Rodoviária Federal. Abandonaram um carro numa fazenda e fugiram pelo mato.
“Cinco assaltantes armados e naquele momento em que avançamos éramos apenas dois policiais. Um que estava na direção do veículo. Então, realmente, era grande a diferença de poder de fogo”, disse o inspetor da PRF Reni Rocha.
Um passageiro, que prefere não mostrar o rosto, era uma das vítimas.
“Antes da PRF chegar, um estava fazendo um comentário de que era para pegar gasolina e matar todo mundo queimado dentro do bagageiro. Então, foi terror total”, disse.
Mas nem tudo deu certo para os bandidos. Eles deixaram impressões digitais no carro que abandonaram durante a fuga. A partir disso a polícia começou a monitirá-los
Nesta semana, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Civil de Goiás trabalharam juntas para prender a quadrilha.
Vinte pessoas foram presas em quatro cidades. Vão responder por roubo qualificado, formação de quadrilha e comércio ilegal de armas. Se condenados, podem pegar até 20 anos de cadeia.
Quem combate os assaltos a ônibus diz que um dos maiores problemas é a falta de fiscalização no embarque de passageiros. Para viajar nas rodoviárias do país, basta apresentar um documento com foto. A bagagem não é revistada.
Veja o exemplo de um homem que aparece numa foto comprando passagem na rodoviária de Brasília. Ele é Fernando Oliveira, de 33 anos. As câmeras de segurança mostram o momento do embarque dele. Ninguém desconfia. Mas na mochila, ele carrega uma arma. Depois de algumas horas de viagem, ele vai à cabine do motorista e começa a conversar. Em seguida, mostra um revólver e volta para assaltar os passageiros. Pede para o motorista parar o ônibus e foge.
O assalto foi em janeiro. Dois meses depois, numa viagem entre Poços de Caldas e Belo Horizonte, ele voltou a atacar.
Mas desta vez, antes de fugir, levou o computador de um engenheiro e disparou contra ele.
João Gabriel Camargos, de 25 anos, morreu na hora.
“Era uma pessoa muito alegre. Agora, depois de quase sete meses é que a começa a delinear um norte melhor pras coisas, mas tem sido muito sofrido”, disse o pai da vítima Júlio Camargos.
Fernando continuou fazendo assaltos e foi preso no Paraná no mesmo mês.
“Tem que ser feito um trabalho muito intenso de inteligência não só da Polícia Rodoviária Federal, mas também dos outro órgãos envolvidos com passageiros para que a gente possa ter uma fiscalização mais eficiente, até porque é muito difícil verificar a bagagem de milhões pessoas que se deslocam hoje nas rodoviárias por ônibus”, disse o superintendente da PRF.
“Não tem condições de viajar desse jeito. Você fica à mercê dos bandidos quarenta minutos e parece uma eternidade”, destaca a passageira.
* Reprodução Márcio Melo
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