Suspeito de vazar documentos do Vaticano, mordomo do papa é preso
Suspeito de vazar documentos do Vaticano, mordomo do papa é preso

Cidade do Vaticano, 25 mai (EFE).- Um homem, identificado por fontes da Igreja Católica como o mordomo do papa, foi detido no Vaticano depois que a polícia o encontrou 'em posse ilegal de documentos reservados' da Santa Sé.
A prisão foi confirmada nesta sexta-feira pelo vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Ciro Benedittini, pouco depois de o porta-voz, Federico Lombardi, ter informado que agentes tinham localizado 'uma pessoa em posse ilegal de documentos reservados' e que ela havia sido colocada à disposição da magistratura vaticana 'para maiores investigações'.
Embora oficialmente o Vaticano não tenha revelado o nome do detido, fontes citadas pela imprensa italiana disseram que se trata de Paolo Gabriele, de 42 anos e considerado um dos membros da chamada 'família do papa'.
Este seleto grupo de pessoas é composto também por seus dois secretários, os sacerdotes Georg Gänswein e Alfred Xuereb, e quatro laicas italianas consagradas da comunidade 'Memores Domini' que cuidam do apartamento papal (residência oficial do papa).
Gabriele é um romano que trabalha no apartamento papal desde 2006, após ter estado a serviço do prefeito da Casa Pontifícia, o arcebispo James Harvey.
Segundo as fontes vaticanas, os agentes encontraram 'uma grande quantidade de documentos reservados' na casa na qual Gabriele vive com sua esposa e três filhos na Via de Porta Angelica, anexa ao Vaticano. Ele foi detido na quinta-feira, de acordo com as fontes, e posto à disposição do Promotor de Justiça do Vaticano, Nicola Picardi, que lhe interrogou hoje durante várias horas.
A prisão de Gabriele, já conhecido como 'Il curvo' (o corvo), surpreendeu em ambientes vaticanos, e algumas fontes duvidam que ele seja o autor dos vazamentos, e sim 'um bode expiatório'.
Bento XVI, segundo fontes vaticanas, foi informado da detenção de seu mordomo e se mostrou 'muito entristecido'.
Gabriele foi preso após as investigações realizadas nos últimos dias pela Gendarmaria Vaticana para esclarecer os casos de vazamentos à imprensa de documentos reservados enviados ao papa Bento XVI e seu secretário Gänswein. As investigações foram feitas segundo as instruções recebidas por uma comissão criada em abril por Bento XVI para esclarecer esses casos.
O escândalo começou quando uma rede de televisão italiana divulgou cartas enviadas pelo atual núncio nos Estados Unidos e ex-secretário-geral do Governo da Cidade do Vaticano, Carlo Maria Vigano, a Bento XVI, nas quais denunciava a 'corrupção, prevaricação e má gestão' na administração vaticana.
Em uma dessas mensagens, Vigano denunciou também que os banqueiros que integram o chamado 'Comitê de finanças e gestão' do Governo e da Secretaria de Estado 'se preocupam mais com seus interesses do que com os nossos', e que em dezembro de 2009, em uma operação financeira, 'queimaram (perderam) US$ 2,5 milhões'.
Após a divulgação desses documentos, Lombardi denunciou a existência de uma espécie de Wikileaks para desacreditar a Igreja. Mas o vazamento não ficou por aí. Em 19 de maio saiu às livrarias o livro 'Sua Santita', do jornalista Gian Luigi Nuzzi, com uma centena de novos documentos revelam tramas e intrigas no pequeno Estado.
Entre as informações confidenciais que foram reveladas está a de que a organização terrorista ETA pediu ao Vaticano no início de 2011 enviar à Nunciatura de Madri vários de seus membros para acertar com a Igreja o anúncio do fim de sua atividade armada, mas o cardeal Tarcisio Bertone o rejeitou, após falar com o bispo de San Sebastián, José Ignacio Munilla.
Lombardi anunciou que a Santa Sé levará à Justiça os autores do vazamento de todos esses documentos reservados e cartas confidenciais ao papa Bento XVI, cuja publicação qualificou como 'ato criminoso'.
A detenção de 'Il Curvo' foi anunciada um dia depois de o Banco do Vaticano (IOR) ter demitido seu presidente, Ettore Gotti Tedeschi, 'por não ter desenvolvido funções de primeira importância para seu cargo'.