sábado, 25 de maio de 2013

Final da Liga expõe divisão alemã com apoio ao Borussia e ódio ao Bayern


Thomas Müller discute com Felipe Santana no último clássico Dortmund x  Bayern

Reunificada há 23 anos, a Alemanha mostra uma divisão quase tão radical quando se trata de futebol e que se fará presente mais uma vez neste sábado, quando Bayern de Munique e Borussia Dortmund decidem a Liga dos Campeões de 2013, às 15h45, no estádio de Wembley, em Londres.


No país do ídolo Franz Beckenbauer, os torcedores se dividem entre os que amam ou odeiam o mais vitorioso clube do país, o Bayern. Nunca a torcida pelo sucesso do Borussia será tão grande.

Na verdade, uma sugestão de que torcedores de outros clubes alemães pretendem virar a casaca durante o duelo de sábado no estádio de Wembley, em Londres, veio com a notícia de que o Borussia recebeu 500 mil pedidos de ingressos. Detalhe: o clube tem apenas 100 mil sócios oficiais.

Outros números realçam a união dos “anti-Bayern” na Alemanha. Pesquisa realizada pela agência local DPA mostra que a preferência pelo Dortmund é mais de duas vezes maior do que a do do Bayern entre os alemães vão acompanhar a decisão, já que 48% dos entrevistados disseram que vão torcer pelo Borussia, enquanto apenas 21% vão com o Bayern. O restante preferiu não opinar.

“O Bayern é assim: ou você torce pra ele ou se dedica a torcer contra os caras. Não creio que ninguém no Stuttgart vá torcer pra eles. Eu torço para o Dortmund nesse jogo”, falou o brasileiro naturalizado alemão Cacau, do Stuttgart. “Mas acho que dá Bayern”, completou.


Maior campeão e time mais rico da Alemanha, o Bayern de Munique é a equipe mais detestada do país pelo status de superioridade. Seu alto poder aquisitivo faz com que seja quase impossível para um jogador do futebol alemão recusar uma proposta. Isso lhe dá a fama de “ladrão” de atletas e acusações de aliciamento pelos clubes rivais.

O caso mais emblemático é evidenciado pela própria partida deste sábado. Maior destaque do Borussia nos últimos anos, o meia Mario Götze já está negociado com o arquirrival vermelho. A transação, anunciada na véspera da primeira partida do Borussia contra o Real Madrid, pelas semifinais da Liga dos Campeões, mês passado, revoltou torcedores. Alguns queimaram camisas do meia e picharam o muro da casa de familiares.

A negociação irritou o técnico do Dortmund, Jürgen Klopp, que reclamou do assédio do Bayern e disse que o rival é um vilão dos filmes de James Bond. Ironicamente, Götze, lesionado, será desfalque na final. Mas o curioso é que o meia é natural de Memmingen, na Bavária, o estado alemão em que se localiza Munique, e segundo amigos da família cresceu torcendo pelo Bayern até se juntar às divisões de base do Borussia.


Ídolo do Bayern, o brasileiro Élber viveu caso semelhante ao de Götze. Era idolatrado no Stuttgart, rival do clube de Munique no sul da Alemanha, mas se  mudou para o inimigo em 1997, ficando por lá seis anos.

“Quando foi anunciado que eu iria para o Bayern, fui chamado de Judas e traidor. Disse que queria ir para a seleção brasileira e só conseguiria num clube como o Bayern. A proposta do Bayern era muito mais do que eu queria ganhar. Nem precisei pedir o salário que queria, já era bem mais alto. Como você não vai pra um clube desses? Eles disponibilizam até avião particular para alguns jogos”, contou Élber ao UOL Esporte.
O ex-jogador, porém, admite que o clube cria inimigos. “O Bayern incomoda bastante as torcidas de outros times quando tira os jogadores. O cara começa a se destacar e todos dizem que logo logo vai pro Bayern. Isso virou uma imagem de arrogância. As torcidas adversárias dizem que é fácil ser torcedor do time que está sempre ganhando . O Bayern é o rival de quase todas as equipes”, completou.


O Bayern e a cidade de Munique pertencem à região da Baviera, mais rica, turística e influente da Alemanha. Isso também ajuda na antipatia do resto do país, que vê no futebol uma chance de minimizar o complexo de inferioridade.

“É o time de quem todo mundo quer ganhar, a equipe a ser batida por acharem que são os donos da verdade. O bávaro é um povo que olha de maneira diferente pros outros alemães”, explica o ex-jogador Amoroso, atuou pelo Borussia e foi campeão alemão em 2002.

O Bayern também já “roubou” um treinador: em 2001, foi campeão europeu pela última vez com Ottmar Hitzfeld, que trocou o Dortmund por Munique em 1998, um ano depois de levar a equipe amarela a seu único título europeu – brigas internas tinha levado o Borussia a ‘’promovê-lo” a diretor.

“É sempre assim. Quem está se destacando provavelmente joga no time que está muito bem na atualidade. Ai vai lá o Bayern e tira, quebrando as pernas de quem está bem. Assim aumenta mais a rejeição”, diz Élber, quase como se desculpando.

Favoritismo vermelho

Em campo, o favoritismo é do time de Munique. Manteve o elenco que foi vice-campeão no ano passado e ainda se reforçou com novas peças fundamentais na temporada, como o zagueiro Dante, o meio-campista Javi Martínez e o atacante Mandzukic.

Foi campeão alemão com 89% de aproveitamento e atropelou o Barcelona nas semifinais. Os jogadores entendem que o vacilo em 2012 ao perder o título para o Chelsea, em casa, nos pênaltis, tem até efeito benéfico para a decisão deste sábado.

"Acho que o que aconteceu há um ano não terá impacto negativo, mas sim, bem positivo, porque estamos motivados", falou Müller.

O técnico do Borussia Dortmund, Jürgen Klopp, afirmou que a final da Copa do Mundo de 1954, na qual a Alemanha venceu a favorita Hungria por 3 a 2, é o jogo que lhe serve de motivação para o duelo contra o Bayern.

"Se há um jogo que me marcou foi a final de 1954, apesar de não tê-la visto. Essa partida mostra que no futebol tudo é possível", disse Klopp em entrevista coletiva.

O treinador afirmou que sua equipe passa por uma situação parecida com aquela que a Alemanha comandada por Sepp Herberger enfrentou antes da final em 54. "Não temos nada a perder", declarou Klopp ao ser perguntado sobre o favoritismo do Bayern.

BAYERN DE MUNIQUE

Neuer; Lahm, Boateng, Dante e Alaba; Javi Martinez, Schweinsteiger, Müller e Ribéry, Robben e Mandzukic. Técnico: Jupp Heynckes

BORUSSIA DORTMUND
Weidenfeller;  Piszczek, Subotic, Hummels e Schmelzer;  Bender, Gundogan e Blaszczykowski; Sahin (Grosskreutz), Reus e Lewandowski. Técnico: Jürgen Klopp
Local: estádio de Wembley, em Londres
Horário: 15:45 (de Brasília)


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