terça-feira, 15 de julho de 2014

Livro infantil aborda temas religiosos e vira alvo de polêmica nas redes sociais

Lobisomens, vampiros, zumbis e fantasmas são figuras clássicas no imaginário infantil. Embora tenham uma dose leve de terror, histórias desse gênero costumam ser atraentes para os pequenos. Mas, e quando a religião entra no meio?

Nas últimas semanas, um livro para crianças de 5 a 9 anos causou polêmica entre pais, educadores e escritores. “A Máquina de Brincar” (Editora Bertrand), do escritor Paulo Bentancur, ganhou as redes sociais depois que uma mãe divulgou trechos de dois poemas da obra. Segundo ela, o texto convida as crianças a serem amigas do diabo, ao mesmo tempo em que questiona a existência de Deus. As fotos do livro em questão, com o depoimento da mãe, já têm mais de 60 mil compartilhamentos no Facebook.
“A explicação é a irreverência, o bom humor, nada além. Não tive o intuito de ofender nenhuma religião. Era para ser uma brincadeira aos olhos das crianças. Quis dar um ar divertido e humano a essas figuras religiosas”, desabafa Paulo Bentancur. Para ele, a polêmica é desnecessária. “Não deixa de ser uma censura, porque o livro também fala sobre outras criaturas fantásticas”, reforça o autor.
São dois poemas, dentre 25 ao todo, que fazem referência a Deus e ao diabo. O livro é dividido em duas partes: “Para ler no claro”, com versos mais leves e divertidos, e “Para ler no escuro”, com poemas mais assustadores.
“O bem e o mal existem na maioria das histórias, como a bruxa que faz mal para a princesa. Os contos de fadas originais, por exemplo, são bem perversos. Por que não aproveitar uma oportunidade como essa, com esses personagens, para conversar com a criança?”, questiona Maria Rocha, diretora pedagógica do Colégio Ápice.
De acordo com ela, as crianças até os três anos ainda sentem dificuldade para discernir o real do imaginário. Portanto, contos ou histórias mais assustadoras podem ser um pouco traumatizantes. A partir dos quatro anos, porém, é o momento de discutir os medos infantis e ajudar os pequenos a superá-los.
Divulgação
'Para mim, a polêmica é desnecessária. Estão tentando censurar a obra apenas por fanatismo religioso', defende Paulo Bentancur
Livro certo e livro errado
De acordo com os especialistas ouvidos pelo Delas, um detalhe que pode tornar o livro inadequado para uma criança diz respeito à faixa etária. Tratando ou não de elementos da religião, a leitura precisa ser orientada e acompanha de perto pelos pais.
“Quanto mais eles estiverem juntos, maior o aproveitamento dos filhos. Os pais devem demonstrar interesse pela história com a qual eles estão envolvidos, fazendo perguntas sobre o enredo e personagens. Tudo isso ajuda no desenvolvimento da criança”, observa Mônica Mazzo, diretora pedagógica do Colégio AB Sabin.
Uma boa oportunidade se apresenta na hora de dormir. Pai ou mãe podem separar alguns minutos por noite e ler a história em voz alta para os filhos. “Isso é maravilhoso, é um momento de carinho em que o livro é intermediário. A criança associa a leitura a esse sentimento de atenção dos pais”, aconselha Maria Rocha.
Até os seis anos, os livros mais indicados são os com recursos lúdicos, que estimulam a criatividade e a fantasia. É aí que a criança se sente livre para criar suas próprias histórias, baseada nas ilustrações. Livros com textos muito longos e pouco apelo visual tendem a ser rejeitados com mais facilidade.
Conforme os pequenos se acostumam com o hábito de ler, os pais podem provocá-los com gêneros textuais diferentes e menos estímulos visuais. “Às vezes, os adultos subestimam as crianças. Escolhem livros sem conteúdo, com a linguagem pobre e uma história ruim. Eles precisam desafiar os filhos, não entregar o mais fácil”, ressalta Maria Rocha.
Valores morais e caráter
A mensagem passada pelos livros também devem ser alvo de atenção dos pais. É na infância que os pequenos começam a formular a própria opinião sobre valores morais e caráter. A literatura pode ajudar nesse sentido, passando lições sobre a importância da honestidade, sinceridade, perdão, carinho e amor.
Embora a presença e o envolvimento dos pais sejam importantes, os filhos precisam de liberdade. Por isso, devem ter o direito de ler e escolher aquilo que os atrai mais. “As crianças nunca devem ser obrigadas a nada. Do contrário, perdem o interesse”, pondera Mônica Mazzo.
Com o avanço da tecnologia, é natural que elas estejam expostas a conteúdos que possam desagradar os pais. Por isso, a censura não é o caminho mais indicado, pelo contrário. É a oportunidade para que exista diálogo sobre assuntos mais polêmicos, facilitando e melhorando a relação da família.

Fonte: IG

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