Manifestantes Participam da Marcha Contra a Corrupção
BRASÍLIA, SÃO PAULO, RECIFE e APARECIDA (SP) - A Polícia Militar estima que cerca de 25 mil pessoas participaram nesta quarta-feira, em Brasília, de protestos contra a corrupção. Organizado por meio das redes sociais, o protesto ganhou adeptos ao longo da caminhada na Esplanada dos Ministérios. Na Praça dos Três Poderes, o grupo cantou o Hino Nacional e parte ficou no gramado principal do Congresso. A PM cercou os prédios da Câmara e do Senado. Alguns jogaram água nos policiais, mas não houve confronto.
Os manifestantes levaram faixas, cartazes e fizeram muito barulho, mas não puderam chegar perto da pista onde ocorria o desfile de Sete de Setembro com a presença da presidente Dilma Rousseff e de outras autoridades . Muitos usavam nariz de palhaço e camisetas pretas com dizeres contra a corrupção e a impunidade. Participaram do protesto pessoas de todas as idades, inclusive crianças.
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O movimento teve apoio de entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que cedeu o trio elétrico. Eles saíram da catedral em direção ao Congresso Nacional.
Entre os principais alvos do movimento estão a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), que escapou recentemente da cassação , e os "mensaleiros" dos governos petista, tucano e do DEM no Distrito Federal.
O presidente da Câmara, Marco Maia, considerou normal a manifestação contra a corrupção. Para ele, faz parte do processo democrático inclusive a colocação de barreiras para que a presidente Dilma não visse o protesto:
- O governo tem sido o maior batalhador para que a malversação do dinheiro público seja investigada, seja atacada. Não tem nenhum constrangimento. Pelo contrário: reforça a política que o governo tem feito nestes últimos anos de combate à corrupção.
Em dezembro, os organizadores pretendem realizar uma corrida contra a corrupção, em Brasília. Também estão nos planos ações para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a manter a Lei da Ficha Limpa. Os ministros vão julgar ainda a constitucionalidade das regras.
- Vamos dar o grito de um basta à corrupção. Lugar de político corrupto é na cadeia! Vamos fazer barulho para eles nos ouvirem. Aquela corja (de políticos) não nos representa. Não temos ligação com partido nenhum - disse um dos organizadores, em um carro de som.
Nos cartazes, a maioria escritos à mão, eles pedem: "Supremo condene os mensaleiros", "Pelo fim do voto obrigatório" e " Corrupto safado pede para sair".
O movimento está reforçado com um pequeno grupo de servidores da Universidade de Brasília (UnB) que estão em greve. Cerca de 50 policiais militares acompanham de longe.
Em São Paulo, ato aconteceu na Avenida Paulista
Em São Paulo, a marcha reuniu um público bastante diversificado, com rostos pintados, apitos, nariz de palhaço e faixas. Segundo a Polícia Militar, cerca de 500 pessoas participaram da manifestação. Um novo ato está sendo planejado para o feriado de 12 de outubro.
A maioria era de jovens e estudantes, mas também apareceram para protestar pais com filhos, idosos e até moradores do interior paulista. A sogra do jogador Kaká e diretora da Dior no Brasil, Rosangela Lyra, participaram do protesto.
Os manifestantes começaram a chegar por volta das 9h e se concentraram no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), de onde saíram em caminhada por volta das 10h pelas calçadas da Avenida Paulista. O ato durou cerca de uma hora e meia. De volta ao Masp, o grupo começou a se dispersar, encerrando a manifestação. Segundo a PM, não houve registro de ocorrência policial.
A maioria das pessoas ficou sabendo da caminhada contra a corrupção pelas redes sociais. Um dos participantes que estava à frente do protesto ajudando na condução, Saulo Vieira Justo Resende, de 28 anos, disse que não conhecia ninguém que estava ali até chegar nesta manhã ao Masp.
- É uma iniciativa espontânea. Não tem organizador nem líderes. E queremos que continue assim - disse.
Algumas pessoas vieram de longe, como um grupo de estudantes do ensino médio, todos com caras pintadas, moradores de Interlagos, na periferia da zona sul da capital.
- Nós acordamos às 6h, pegamos um "busão" e viemos protestar - contou Juliana Aguiar do Nascimento, de 17 anos.
Formados principalmente no Facebook, os grupos no Brasil pretendem repetir uma tendência internacional, como no Chile e na Espanha, quando jovens foram às ruas este ano por diferentes motivos depois da convocação na internet.
Em Recife, artistas fizeram a alegria da manifestação
Embora o tema fosse "Pela vida grita a terra. Por direitos, todos nós", a décima sétima edição do Grito dos Excluídos terminou gerando também, uma série de protestos contra a corrupção. Estudantes, artistas, poetas, aproveitaram a manifestação paralela ao desfile oficial não só para pedir leis mais rigorosas para os corruptos como também utilizaram fantasias para enviar o seu recado.
No meio da avenida Conde da Boa Vista - principal via de acesso ao centro - o vendedor autônomo José Bezerra, fantasiado de ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, carregava uma mala preta, com um cartaz branco colado na parte superior: "sem destino, liso, mas honesto", ironizava.
Ao seu lado, o ator Marco Antônio Lima dos Santos, integrante de um grupo de teatro de rua do Recife, agitava uma bandeira do Brasil, com uma roupa vermelha, encarnando a presidente Dilma Rousseff.
Presidente da OAB diz que 'país precisa é de vergonha na cara'
O presidente da OAB, Ophir Cavalvante, fez na manhã desta quarta-feira um discurso de militante no protesto contra a corrupção, em Brasília. Ophir defendeu que os brasileiros se engajem em ações contra a corrupção e a impunidade e usou um bordão do presidente do Senado, José Sarney.
- Brasileiros e brasileiras, sem querer parodiar qualquer político, o que esse país precisa é de vergonha na cara. O povo não tolera mais a corrupção e nem os políticos que fazem da vida pública uma extensão dos seus interesses privados. A indignação é geral em todo país. O povo tem que ir para as ruas. Hoje é o dia de dar o grito da independência: chega de corrupção - disse Ophir, em discurso no carro de som na concentração da Marcha Contra a Corrupção.
Ele afirmou ainda que o dinheiro público está indo para o ralo da corrupção, e, por essa razão, a "miséria descampa" no país.
- O povo tem que ir para a rua como foi nas Diretas Já, no impeachment de (Fernando) Collor. Temos que ser protagonistas e não coadjuvantes. Ladrão tem que ir para cadeia - afirmou o presidente da OAB.
Integrantes do 'Grito dos Excluídos' fazem caminhada em Aparecida (SP)
Trabalhadores fizeram neste feriado de Sete de Setembro na cidade de Aparecida, a 163 quilômetros de São Paulo, uma caminhada em direção à Basílica, onde participaram de um ato como parte do Grito dos Excluídos, protesto que há 17 anos pede por melhores condições de moradia, saúde e emprego.
Segundo os organizadores, cerca de três mil pessoas saíram da localidade de Porto Itaguaçu e caminharam pela BR-488 em direção ao santuário. Eles estão com carro de som pedindo a reforma agrária e urbana. A caminhada dos trabalhadores foi organizada pela Pastoral do Migrante e pela Pastoral Operária. Os manifestantes também carregavam imagens de Nossa Senhora Aparecida. A Polícia Rodoviária Federal e a Guarda Municipal não informaram o número de participantes. Não foram registrados tumultos.
Entre as reivindicações tradicionais, o Grito dos Excluídos ampliou as críticas ao problema da corrupção no país. Segundo um dos coordenadores nacionais do evento, Ari Alberti, o Brasil precisa urgentementre de uma reforma política para resolver questões que reforçam atos de corrupção no país.
- Foi uma coisa vergonhosa o que aconteceu com a deputada Jaqueline Roriz. Faz cinco anos que o Congresso festejou o fim das votações secretas, que se votou em primeiro turno. Há cinco anos o povo espera que se vote em segundo turno. Reforma política é necessária por conta dessa corrupção - disse ele, referindo-se ao episódio em que a deputada, mesmo flagrada em vídeo recebendo pacotes de dinheiro, foi absolvida na Câmara dos Deputados em votação sem que os votos dos parlamentares fossem identificados.
No ato, faixas e cartazes mostravam as demandas das pessoas presentes e traziam dizeres como "justiça" , "trabalho digno", "o agrotóxico mata", "Belo Monte: para quê e para quem?" e "punição ética", o que reforçava o movimento anti-corrupção no país.
Durante a missa, o arcebispo de Aparecida, cardeal dom Raymundo Damasceno, fez um apelo para os governantes do país:
- Vamos pedir que nossos governantes tomem suas decisões pensando na Justiça, no desenvolvimento do país, no bem de todo o povo e tenham sensibilidade para com os mais excluídos para que o país tenha melhores condições de vida.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/09/07/manifestantes-participam-da-marcha-contra-corrupcao-925303732.asp#ixzz1XMMJAOwd
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Fonte: O Globo
Publicada em 07/09/2011 às 13h01m
Isabel Braga, Evandro Éboli, Fábio Fabrini, Letícia Lins, Marcelle Ribeiro e Silvia Amorim (opais@oglobo.com.br)
Por Márcio Melo
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