quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Oficial da PM capixaba dá carteirada numa blitz

Reprodução/GTV

O vídeo acima veio à luz nesta terça-feira. Mas a cena se passou há 17 dias, na madrugada de 13 de outubro. Deu-se na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo. Ao deixar uma boate, um cidadão deu de cara com uma blitz da Lei Seca, montada pela PM. Embora relutasse, foi forçado a parar o carro.

Estava sem o cinto de segurança, o braço para fora da janela. Convidado a exibir a habilitação de motorista e os documentos do carro, indagou, dedo em riste: “Você sabe que eu sou coronel da Polícia, né?” E o PM que fazia a abordagem: “Eu não conheço o senhor. Quero a identificação do senhor.”
Em vez da habilitação, o motorista exibiu a carteira de oficial da PM. Lia-se no documento: José Dirceu Pereira, tenente-coronel da Polícia Militar. A ‘carteirada’ deu resultado. O oficial deixou o local sem mostrar os papeis exigidos. O episódio foi narrado no relatório da blitz.
Assina a peça o 2º Tenente da PM capixaba Osvaldo Savergnini do Carmo. Ele anotou que o tenente-coronel Dirceu declarou que os policiais queriam “sacaneá-lo”. Requisitou a devolução de sua carteira funcional, engatou marcha a ré, e saiu sem que lhe fosse dada a permissão. Teste de bafômetro? Nem pensar!
Além das imagens e do relatório, o episódio gerou três telefonemas para um órgão chamado Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes). As ligações foram gravadas. Reportagem do jornal ‘Gazeta’, de onde as informações reproduzidas aqui foram extraídas, traz o áudio das gravações.
Numa, um dos PMs que participavam da blitz pede instruções para o oficial de plantão. Após explicar o que sucedera, ele é orientado a aconselhar-se com o comando do Batalhão de Trânsito. Noutra gravação, feita minutos depois da primeira, outro PM pede à atendente do Ciodes que registre uma ocorrência. Ele narra o episódio sem fazer menção à 'carteirada'.
Na terceira ligação, o mesmo PM pede a outra atendente que cancele a ocorrência que acabara de registrar. A voz feminina pergunta por quê? E o policial informa que recebera ordem de um tal major Bongestad. Tratava-se de de Cleber Bongestad, subcomandante do Batalhão de Trânsito.
José Dirceu Pereira, o tenente-coronel que se considera acima da lei, trabalha, veja você, como assessor jurídico do comandante-geral da PM do Espírito Santo, coronel Edmilson dos Santos. O Ministério Público pediu o afastamento dele e de alguns policiais envolvidos na ocorrência. O pedido foi desatendido.
Embora a narrativa do caso inclua imagem, som e textos, o corregedor-geral da PM, coronel Marcos Celante, disse: “Preferimos avançar um pouco mais nas investigações.” Abriu-se um Inquérito Policial Militar. Noves fora as transgressões militares, há pendências enquadráveis na legislação de trânsito. “A lei é clara. Qualquer pessoa tem que apresentar habilitação e documento do veículo numa blitz”, reconhece o próprio o coronel Celante.
Em sua defesa, o tenente-coronel Dirceu alega que sofreu uma abordagem indevida. Heimmm?!?!? Para ele, só um oficial de patente igual ou superior à sua poderia ordenar-lhe a exibição dos papéis. Ele move processo contra o sargento que o abordou na blitz. Levando-se o raciocínio ao pé da letra, se um general do Exército for pilhado transgredindo as leis ao volante, só o ministro Celso Amorim (Defesa) ou Dilma Rousseff poderiam importuná-lo.
A propósito, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), talvez devesse considerar a hipótese de dar as caras. Levando-se em conta que o infrator, os policiais que se abstiveram de multá-lo e os superiores que o protegem continuam nos respectivos postos, alguém precisa demonstrar que o Estado tem comando.
* Reprodução Márcio Melo

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