segunda-feira, 16 de julho de 2012

O RECANTO DAS SUCURIS



Um bicho que mata por asfixia. Um predador dos pântanos e dos rios, capaz de engolir animais inteiros. O Fantástico fica cara a cara com a maior cobra do Brasil. 
Bonito, Mato Grosso do Sul. Recentemente, em uma fazenda da região, foi descoberto um centro natural de reprodução da sucuri. É para lá que a equipe do Fantástico foi. É época de estiagem, o momento certo para encontrar a cobra. 
São quilômetros e quilômetros para dentro do mato. A equipe pega a estrada para chegar até a fazenda, longe das áreas de turismo. 
A ponte de madeira é a parada. A partir deste ponto, nada pode falhar. No Rio Formoso eles montam todos os equipamentos de mergulho. Antes de embarcar, um aviso."Nunca encostar nela, ameaçar ela. No começo fica distante para ela conhecer você e você conhecer a sucuri ", alerta Juca Ygarapé, o guia. 
No Brasil, existem três espécies de sucuri: a amarela, do Pantanal, a verde, encontrada nas áreas alagadas do Cerrado e da Amazônia, é a malhada, que só existe na ilha de Marajó, no Pará. Há registros de sucuris com mais de dez metros, isso é mais do que o comprimento de um ônibus. O dia de sol promete condições ideais. Daniel, o biólogo, vai na proa do barco, atento. Os brejões nativos são refúgios naturais das sucuris. É lá que elas se reproduzem. E estamos na época de acasalamento. 

A equipe navega no rio com um motor elétrico e ajudando no remo. É preciso fazer silêncio para não espantar os animais. Quando o sol começa a esquentar, a sucuri tem por hábito sair da água e ficar na margem aquecendo o corpo. Daniel faz sinal. Aponta um corpo amarelo, meio submerso. Um predador à espreita. É a nossa sucuri. O fotógrafo Luciano Candisani se prepara para filmar a cobra embaixo d'água. É um momento de concentração. 
Para Luciano, cada mergulho é como se fosse o primeiro. E dessa vez, tem mais uma preocupação. “É com a correnteza, eu acho que pode atrapalhar mais para a estabilidade das imagens e agora estou tomando o cuidado de molhar a câmera para evitar que a lente embace na água porque está mais fria”, explica Luciano Candisani. Eles encaram a cobra. É uma sucuri verde, considerada a mais pesada e mais grossa de todas as cobras do mundo. Ela se arrasta pelas curvas de barro, analisando a área e quando vai para o fundo do rio, a velocidade e o tamanho impressionam. Um homem adulto, ao lado dela, fica pequeno. A forte correnteza dificulta as gravações. Qualquer movimento suja a água. E a sucuri, de mais de sete metros, some no meio da nuvem de areia. 
Mas quando melhora a visibilidade, o bicho volta a aparecer. Daniel nos explica que a sucuri é muitas vezes injustiçada pelas histórias que o povo conta. 
"Ela não tá lá esperando com fome e vai chegar, atacar e engolir um de nós. Isso não acontece”, diz o biólogo Daniel Granville. Mas nesse período de acasalamento, todo o cuidado é pouco. "Existem relatos que na época da reprodução ela pode predar, engolir, comer um dos machos. Então nessa época do ano, da reprodução, os machos tendem a ficar agressivos, eles estão com medo de ser devorados pela fêmea.”, explica o biólogo. Decidimos arriscar. Vamos em dupla até a margem. 
A equipe consegue então captar uma cena impressionante e muito rara: a fêmea matou o macho e está enroscada nele, num abraço fatal. É assim que a sucuri abate suas presas: apertando até sufocar. E isso pode durar dias. O risco de a cobra soltar a presa e ir em nossa direção a equipe existe. A sucuri não tem uma visão apurada, mas sabe que tem gente por perto. Ela usa a língua como um sensor, sentindo cada movimento estranho na água. "Depois de duas horas aqui debaixo da água eu posso dizer que valeu a pena pegamos uma cena, um comportamento raro: da sucuri enrolada no macho, da fêmea enrolada no macho”, diz o fotógrafo. A equipe faz a viagem de volta. As águas continuam translúcidas e serenas. Mas já se sabe: na aparente tranquilidade, no meio desse alagado, tem um mundo a ser descoberto. Gigantes escondidos, nos vigiando! 

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