quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Seis dos 14 hotéis financiados para Copa não funcionarão no Mundial

Dias depois de a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) informar que o preço de uma diária em um hotel brasileiro subirá até 583% na Copa do Mundo de 2014, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, foi questionado sobre o assunto. Sereno, ele disse em entrevista no Rio de Janeiro que o governo criara anos atrás uma linha de crédito especial justamente para impulsionar investimentos no setor hoteleiro visando ao Mundial. Segundo ele, esses investimentos aumentariam a oferta de leitos para turistas que viajarão pelo país, e isso evitaria aumentos abusivos no valor nas diárias durante o torneio.

De fato, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem uma linha de financiamento para obras em hotéis desde 2010: a ProCopa Turismo. Acontece que mais de um terço das empresas que conseguiram um empréstimo para construir ou reformar um hotel pela linha criada para o Mundal só vai entrega-lo após o torneio.
Faltando menos de dez meses para o início da Copa, 14 projetos de expansão da rede hoteleira já conseguiram mais de R$ 900 milhões em financiamentos com juros abaixo do mercado com o banco estatal. No entanto, pelo menos seis desses projetos só vão ser entregues após o início do Mundial ou até meses depois do término dele (veja tabela abaixo).
Os maiores projetos hoteleiros financiados por meio do ProCopa Turismo, aliás, não estarão prontos até a Copa. A construção de um hotel da rede Hyatt na zona oeste do Rio de Janeiro, por exemplo, que está sendo apoiada com um financiamento de quase R$ 300 milhões, só deve estar concluída em abril de 2015 –nove meses após o Mundial.
Mais atrasada ainda deve ser a entrega da reforma do Hotel Glória, que também fica no Rio. A obra é um empreendimento do ex-bilionário Eike Batista. O BNDES emprestou R$ 190 milhões ao empresário, que prometeu reabrir o hotel em abril de 2014. Após a crise que abateu o grupo X, porém, a reforma praticamente parou e agora só deve acabar em maio de 2015.
Assim como o Hotel Glória e o Hyatt, o Hilton do Rio, o Ibis de Natal, o Hotel Tulip Inn de Itaguaí (RJ) e o Ibis Budget de Porto Alegre também conseguiram financiamento, mas tem abertura marcada para após a Copa.

CONHEÇA AS OBRAS EM HOTÉIS FINANCIADAS PELO BNDES

HotelLocalFinanciamentoAbertura
Grand Hyatt BarraRio de JaneiroR$ 298,5 milhõesAbril de 2015
Hotel GlóriaRio de JaneiroR$ 190,6 milhõesMaio de 2015
Hotel HiltonRio de JaneiroR$ 118,5 milhõesFinal de 2014
Hotel Grand MercureRio de JaneiroR$ 87 milhõesMaio de 2014
Cidade do RomeiroAparecida (SP)R$ 32,5 milhõesConcluído
Mar Hotel Recife, do Hotel Atlante Plaza e do Summerville Beach ResortPorto de Galinhas (PE)R$ 32 milhõesJaneiro de 2014
Hotel Linx GaleãoRio de JaneiroR$ 27,7 milhões2º sem de 2013
Hotel Ibis BudgetPorto AlegreR$ 22,9 milhões2º sem de 2014*
Hotel Ibis BotafogoRio de JaneiroR$ 20,3 milhõesConcluído
Hotel Tulip InnItaguaí (RJ)R$ 19,6 milhõesSetembro de 2014
Tivoli EcoresortSalvadorR$ 16,4 milhõesConcluído
Hotel SoteroSalvadorR$ 15,1 milhõesConcluído
Hotel Ibis CopacabanaRio de JaneiroR$ 11,6 milhõesConcluído
Hotel Ibis Natal NatalR$ 10 milhõesMarço de 2015
TotalR$ 902,7 milhões
  • *Previsão do BNDES
Todos eles conseguiram mais de R$ 660 milhões em empréstimos, ou seja, cerca de 65% do total já aprovado pelo BNDES para hotéis. Oito projetos financiados pelo banco que ficarão prontos para a Copa conseguiram R$ 242 milhões, o que dá 27% do montando emprestado.
Em nota, o BNDES informou que, para ele, o prazo de conclusão dos projetos não importa para a concessão do crédito. "O BNDES não financia hotéis para a Copa do Mundo, mas para o Brasil", resumiu o banco, em comunicado ao UOL Esporte.
O BNDES explicou que o ProCopa Turismo surgiu, sim, da escolha do Brasil como sede do Mundial de 2014 e da Olimpíada de 2016. Contudo,  o banco vê esses eventos como "catalisadores" dos investimentos turísticos no país, não como simplesmente geradores de uma demanda emergencial por leitos. Na visão do BNDES, o mais importante é elevar a qualidade dos hotéis brasileiros para o futuro, não garantir que os turistas tenham quartos só na Copa.
Sobre os preços das diárias nesses grandes eventos, o banco não se pronunciou. O próprio Aldo Rebelo, entretanto, já afirmou que o governo acompanha essa questão. Se os investimentos no setor não forem suficiente para moderar os reajustes, será o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) quem garantirá tarifas razoáveis, segundo o ministro.
"Já temos acompanhado essa questão via Ministério da Justiça, como Cade (Conselho Administrativa de Defesa Econômica) e a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo)", afirmou ele, na mesma entrevista coletiva do Rio.
* Reprodução Márcio Melo

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