Situação do saneamento no Brasil é dramática e não condiz com crescimento econômico do país, diz especialista
Rio de Janeiro – Os indicadores de saneamento no Brasil são “dramáticos” e
fazem o país parecer parado no século 19. A avaliação é do presidente executivo
do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. A organização não governamental
realiza estudos e acompanha a situação do saneamento básico no país.
De acordo com o Trata Brasil, os últimos dados disponíveis do Ministério das
Cidades, de 2009, mostram que cerca de 55,5% da população brasileira não estão
ligados a qualquer rede de esgoto e que somente um terço dos detritos coletados
no país é tratado.
“Podemos dizer que a grande maioria do esgoto do país continua indo para os
cursos d’água, os rios, as lagoas, os reservatórios e, consequentemente, o
oceano. O Brasil parou no século 19. Qualquer indicador que você pegue tem
níveis dramáticos, que não têm nenhuma relação com o avanço econômico que o
Brasil vem tendo”, disse Carlos.
Para o especialista, o Brasil teve avanços, principalmente com a criação do
Ministério das Cidades e com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os
progressos, no entanto, ainda são tímidos em relação às necessidades do
país.
Segundo ele, atualmente são investidos entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões por
ano em saneamento no Brasil, quantia inferior à necessária para atingir as metas
do governo até 2030 – investimento de R$ 420 milhões pelos próximos 18 anos, o
que corresponde a cerca de R$ 20 bilhões por ano, de acordo com estimativas
feitas pelo Ministério das Cidades.
Mesmo com o aumento dos recursos para saneamento básico nos últimos anos,
principalmente por causa do PAC, a maioria dos projetos não sai do papel. Um
levantamento divulgado no início de abril deste ano pelo Trata Brasil, sobre as
114 principais obras de saneamento da primeira fase do programa, mostra que
apenas 7% delas estão prontas. Entre as demais, 32% estavam paralisadas e 23%
atrasadas.
“O problema não é a falta de recursos. Os municípios não conseguem tocar as
obras. Muitos projetos [apresentados ao PAC] estavam desatualizados e tinham
problemas técnicos. Muitas obras não passaram nem na primeira inspeção [do
programa]”, informou o especialista.
Para Édison Carlos, os principais entraves ao avanço do saneamento básico no
país são a falta de prioridade dada pelos políticos à questão e a falta de
interesse da população em cobrar essas obras das autoridades.
O Instituto Trata Brasil participará da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável (Cnuds), a Rio+20, mas Édison Carlos é cético em
relação aos avanços que poderão ser obtidos.
“Espero estar errado, mas acho que temas como os biocombustíveis, a questão
da floresta e o efeito estufa tendem a dominar as discussões. Além disso, o que
costuma balizar essas discussões são temas econômicos”.
Fonte: Agência Brasil
Por MMelo
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