50 anos depois, pílula ainda é anticoncepcional mais usado
Segundo o Ibope, cada vez mais mulheres recorrem à pílula do dia seguinte
RIO — A ordem de prioridades na vida das mulheres se inverteu nas últimas décadas: hoje, elas pensam primeiro na carreira, deixando a formação da família em segundo plano. E, como adiam o momento de ter filhos, usam e exigem cada vez mais dos métodos de contraconcepção. Estas são algumas das conclusões de uma pesquisa do Ibope sobre métodos anticoncepcionais, na qual o comportamento das mulheres nascidas até 1965 (baby boomers) foi comparado ao das gerações posteriores (X e Y).
O estudo mostrou que as novas gerações começam a vida sexual mais cedo (80% das entrevistadas iniciou-a antes dos 16 anos) e por iniciativa própria (39%). Apesar disso, a maior parte de suas representantes não conhece todos as opções de contraceptivos disponíveis no mercado: eles se queixam da pílula tradicional, pela obrigatoriedade de precisar lembrar de tomá-la todos os dias, mas não recorrem a outros métodos por saber pouco a respeito deles. Como consequência dos dois fatores, um grande número afirma recorrer cada vez mais à pílula do dia seguinte — o que é preocupante, segundo especialistas.
— Diferentemente das baby boomers, a mulher de hoje sai de casa sem saber se vai fazer sexo, e, se acontece, recorre à pílula do dia seguinte, o que é alarmante — diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade da USP. — Esta pílula foi projetada para ser excepcional, e, nestes casos, dá resultados excelentes. Mas, se usada como rotina pode levar a um grande desequilíbrio do ciclo da mulher, por ter uma alta carga hormonal. E, dependendo do caso, até desencadear um quadro de câncer. Hoje em dia há muitas opções. A mulher deve buscar a que mais se adéqua ao seu estilo de vida. Se não o faz, pode ser por desinteresse ou por receio de que o método falhe. Mas ela deve se lembrar de que novos métodos só chegam ao mercado depois de largamente testados.
A falta de conhecimento sobre os benefícios e inconvenientes de métodos mais modernos foram realmente os motivos alegados pelas mulheres das gerações X e Y para justificar sua preferência pelas já muito conhecidas pílulas hormonais em detrimento de alternativas como implante subcutâneo, injeções, DIU com hormônio e adesivos, bem mais novas. Muitas explicam a pouca informação dizendo não terem sido informadas por seus médicos sobre a conveniência destas formas de evitar a gravidez.
Feita por encomenda de uma empresa do ramo farmacêutico, a pesquisa aplicou questionários a mil mulheres de dez grandes cidades brasileiras (Rio, São Paulo, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Belém, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Recife), com idades entre 18 e 65 anos. As representantes das gerações X e Y disseram que se informam sobre métodos anticoncepcionais recorrendo a amigas e à internet, mas também ouvem seu ginecologista — desde que o método recomendado por ele médico atenda a suas preferências (52%).
Além da segurança de que não vão engravidar, as nascidas após 1965 querem benefícios extras do seu contraceptivo, como melhora da pele e do cabelo (o que foi mencionado oito vezes mais por elas do que pela geração baby boomers) e manutenção do apetite sexual (quatro vezes mais). É desejável ainda que o método ajude a controlar o peso, melhore a TPM e não precise ser usado diariamente, mostrou a pesquisa. A ginecologista Denise Monteiro e a psiquiatra Carmita Abdo observam que as novas gerações, no entanto, estão se esquecendo de uma questão igualmente importante: a de que é preciso se proteger contra doenças sexualmente transmissíveis. Por isso, independentemente de os preservativos serem ou não o método eleito por elas para evitar a gravidez indesejada, observam, eles deveriam ser usados em todas as relações sexuais:
— O preservativo ajuda a evitar não só as doenças em que todo mundo pensa, como Aids, mas também, por exemplo, hepatite B — observa a médica Denise Monteiro, professora da Uerj. — E eles são eficazes. Infelizmente, no caso dos preservativos para mulheres, eles não caíram no gosto das mulheres, porque, além de tudo, são esteticamente feios: parecem coadores, e o aro fica para fora da vagina durante o ato sexual. A intenção ao criá-lo foi boa, mas ele não pegou.
Embora mais focada no uso dos contraceptivos, a pesquisa revelou outros dados comportamentais interessantes. Verificou-se que há muito mais mulheres das gerações X e Y assumindo o papel de chefes de família (56%, contra 18% das baby boomers). O mesmo acontece com o trabalho: 58% das nascidas após 1965 têm um ofício, contra 19% das representantes de gerações anteriores.
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