sábado, 10 de março de 2012

O petróleo é delas

 

Depois de Graça Foster, escolha de Dilma para a ANP reforça o trio para comandar setor de energia

Mulheres no comando: Magda Chambriard, na ANP, Dilma, na presidência, e Graça Foster à frente da Petrobras
Foto: Arte sobre fotos
Mulheres no comando: Magda Chambriard, na ANP, Dilma, na presidência, e Graça Foster à frente da PetrobrasArte sobre fotos

BRASÍLIA — Na mesma semana em que foi derrotada no Senado com a rejeição da recondução de Bernardo Figueiredo ao cargo de diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a presidente Dilma Rousseff decidiu blindar a Agência Nacional de Petróleo (ANP) ao nomear a diretora Magda Chambriard para comandar o órgão regulador. A escolha de Magda foi uma resposta à pressão de partidos aliados para manter a influência política nas agências reguladoras.
Desde dezembro, quando o comunista Haroldo Lima deixou o cargo de diretor-geral da ANP, o Palácio do Planalto administrava a pressão de aliados para promover o loteamento da ANP: de um lado, o PMDB queria ampliar a influência na agência; de outro, o PC do B trabalhava para manter o feudo. Até mesmo o PT chegou a fazer um lobby discreto pelo cargo. Mas, desde o ano passado, Dilma já sinalizava internamente que o seu nome preferido era de Magda Chambriard. Agora, além da própria Dilma, que foi secretária estadual de Energia do Rio Grande do Sul e ex-ministra do setor no governo Lula, há Graça Foster no comando da Petrobras e, agora, Magda Chambriard. Resultado: o comando do setor de petróleo, considerado estratégico para o país em tempos de pré-sal, está exclusivamente em mãos de mulheres.
A queda de braço dos aliados pelo comando da ANP ganhou força em dezembro passado, durante a votação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), no Senado. A cobiça do PMDB era tamanha, que o partido passou a disputar internamente a indicação. O presidente do Senado, José Sarney, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, defendiam nos bastidores o nome do maranhense Allan Kardec Duailibe. Apesar de Kardec ter sido filiado ao PC do B, ele se aproximou nos últimos anos de Sarney.
Ao mesmo tempo, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), chegou a defender nos bastidores a indicação de Fernando Câmara, hoje gerente-executivo da ANP, para o comando da agência. Apesar da proximidade com o PT, Câmara circulou pelos corredores do Senado, no fim do ano passado, para conseguir apoio de peemedebistas. Mas depois de tomar conhecimento da posição de Sarney, Raupp recuou.
A relação entre a presidente Dilma e a nova diretora-geral da ANP foi consolidada no episódio do vazamento de petróleo da Chevron, na Bacia de Campos, no fim de 2011. Segundo relato de auxiliares, Dilma teria ficado muito impressionada com as ações da então diretora no embate com a petrolífera responsável pela exploração na área. Na ocasião, a iniciativa de Magda ofuscou o próprio Haroldo Lima. Desde essa ocasião, Dilma já tinha certeza que a escolheria para o cargo, já que Haroldo Lima, após dois mandatos, não poderia mais ser reconduzido ao posto. Ele saiu em fins do ano passado.
Só evitou fazer as mudanças no fim do ano, para evitar reações no Congresso durante a votação da DRU. Esta semana, diante de novas pressões e com a derrota no Senado, Dilma decidiu oficializar a nomeação de Magda.
— Nada é por acaso — resumiu um interlocutor direto da presidente, ao sinalizar que a nomeação de Magda foi uma resposta de Dilma aos partidos aliados. O recado foi que não aceitará mais indicações políticas para os órgãos reguladores, como havia prometido antes mesmo de tomar posse, em 2010.
Nome de carreira da Petrobras, Magda Chambriard chegou na ANP pelas mãos do seu antecessor, Haroldo Lima, do PCdoB. Depois de ocupar uma assessoria, assumiu a superintendência de exploração da agência, antes de ser nomeada diretora. Segundo fontes da Petrobras, inicialmente o nome preferido da presidente da estatal, Graça Foster, era do diretor da ANP Helder Queiroz. Mas como Queiroz tem um perfil exclusivamente técnico, ele mesmo demonstrava resistência em assumir o comando da agência.
Ainda nesta segunda-feira, a ANP é considerada um feudo do PCdoB. O diretor Florival Rodrigues de Carvalho, que substituiu provisoriamente Haroldo Lima, é também uma indicação dos comunistas. Mas, a partir de agora, Dilma tentará reduzir a influência política na estatal, aposta um auxiliar palaciano.

Fonte: O Globo

Por Márcio Melo

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